6.1.09

Stars

No fim de semana passado dei umas voltas com as minhas irmãs e uma prima pela noite da cidade. Chovia sem parar e os primeiros lugares que tentamos estavam fechados. Acabamos parando no Albano’s, onde apenas tomamos uns choppes e jogamos conversa fora...

A minha prima se chama Rachel. Ela é muito divertida e tão bonita quanto o seu nome indica. Bem mais jovem que eu, ela é estudante e ainda está em busca de seu primeiro emprego. E todo jovem sabe o quanto isso é difícil hoje. Eu mesmo fiquei 10 meses depois que me formei até conseguir um trabalho. Assim tem sido no Brasil e no Mundo. Mesmo em tempos do “espetáculo do crescimento” tão profetizado pela nosso Presidente e que, à custa de seu pífio desempenho na Economia, foi ironicamente rebatido pelo Sen. Jorge Bornhausen, ao dizer que o que se via, na verdade, era o “crescimento do espetáculo”.

O que esse trocadalho do carilho mostra é o quanto a grande mídia impõe ao público uma valorização da imagem e dos factóides sobre intrigas e arranca-rabos entre figuras públicas, em detrimento da discussão apropriada dos temas mais relevantes para o País. Dada a clássica falta de interesse e de consciência política do público, os “poderosos” da Comunicação se esbaldeiam em esvaziar os conteúdos da informação e “espetacularizar” a cobertura jornalística, hipervalorizando os dotes nada intelectuais de seus “garotos-propaganda”. Sejam eles políticos, mega-empresários, artistas ou esportistas, o importante para esses “famosos” é manter-se em evidência, mesmo que a notícia que se dê não seja exatamente para “falar bem” dos seus feitos...

Mas, enfim, o que isso tem a ver com a minha prima Rachel? O lance é que quando eu perguntei sobre quais eram os seus planos para 2009, a primeira coisa que veio à cabeça dela foi dizer que “queria ser percebida em todo lugar onde chegasse” (...) “Chegar arrasando!” como dizem as mulheres por aí... Eu e minhas irmãs rimos bastante e dissemos a ela que isso já acontece. Mas ela desdenhou, dizendo que isso só acontecia na nossa casa, com os parentes, e que “assim não contava”. Ela queria que a sua estrela brilhasse em qualquer lugar onde pisasse os pés.

Não deixo de ter uma certa empatia com ela nesse ponto. Acho que a maioria das pessoas quer ser reconhecida e valorizada. Faz parte da nossa auto-estima. Pode-se encarar isso também como pura vaidade. Sim, claro. Mas não há como negar que esse desejo, essa vontade existe... Freud, “aquele velho louco cheirador”, já explicava... E é por aí que a Mídia começa a exploração da imagem. Não vou me aprofundar muito sobre isso, porque já há outros que trataram desse assunto com muito mais propriedade, como Guy Debord, em Sociedade do Espetáculo, e Adorno, quando criou o conceito de Indústria Cultural, para citar alguns...

O meu ponto é justamente a identificação que tive com a minha prima naquele momento. Também há em mim essa vontade de reconhecimento. De valorização. E não só eu, mas como boa parte dos meus amigos também aspira esse tipo de coisa. A diferença é que não queremos que nos reconheçam apenas pela imagem. Não quero, não queremos ser bonecos que um canal de TV, um jornal, uma revista qualquer usarão por algum tempo para vender o seu produto e depois ser(mos) descartado(s) pela próxima “new face” que aparecer (E quero acreditar que a Rachel também não queira isso). A minha vontade é que me reconheçam. Mas pelo meu trabalho. Também como a Rachel, não quero ser percebido apenas no meu quintal, na minha rua, mas no Mundo... E para isso eu sei que terei de trabalhar muito! Acredito que apesar de toda a ditadura da superficialidade imposta pelos Canais de Comunicação, aqueles que se dedicam a fazer um trabalho decente e inovador, em algum momento alcançarão o justo reconhecimento pelo seu esforço. É nessa certeza que me firmo. E é com esse ímpeto que permaneço ao acordar a cada dia. É isso o que move...

Um comentário:

Anônimo disse...

reflexão bacana, black.