19.9.06

Dias de Luta

Passou o 7 de Setembro. Declarei a minha independência do Brasil.
Aproximam-se as eleições e não tenho candidatos.
No Dia das Crianças já sei que não vai ter brinquedo.
Finados: estão numa situação melhor do que a nossa.
15 de Novembro? Sou anarquista...
Depois vem o Natal. Mas Papai Noel nunca me enganou.
E daí vem o Ano Novo pra tudo continuar na mesma...

O que seria dos feriados sem a possibilidade redentora da embriaguez?

18.9.06

Joker Man

A despeito de um comentário irônico que fiz outro dia, causando uma certa exacerbação, travei este diálogo com Lili Marlene, principiando por dizer-lhe que, obviamente, aquela afirmação era em tom de brincadeira. Entretanto, Lili Marlene, com todo aquele jeito Lili Marlene de ser, tenta então me implicar no crime de Ato Falho:

Lili Marlene: "É, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade..."

Ogro: "Você acha mesmo?"

Lili Marlene: "Claro! A pessoa fala brincando, mas tem uma verdade por trás do que ela disse."

Ogro: "É, pode ser. Mas é uma verdade que ela nega, porque ri daquilo."

Lili Marlene: "Como assim?"

Ogro: "Se alguém brinca com algo que em tese seria verdade é porque já a superou. Era alguma coisa que valia para esta pessoa, mas que já não vale mais. Então, ela é capaz de brincar com aquela verdade."

Lili Marlene: "É, acho que tem razão. Talvez seja uma verdade que a gente nega..."

Ogro: "Acho que mais superada do que negada. Era verdade, mas deixou de ser. E talvez deixe mesmo de ser no exato momento em que rimos dela."

Diante de tanta perspicácia, Lili Marlene desconversa resignadamente [ou resigna-se desconversadamente] mudando de assunto...

15.9.06

Mais do mesmo

Conversávamos eu e o Carcamano sobre um curta que ele tinha assistido, Glaubirinto, com diversos depoimentos sobre pessoas que conviveram com Glauber Rocha. Lá pelas tantas, ele me descreve o [anti] depoimento comovido [e comovente] de Jards Macalé. Então surgiu o microdiálogo que segue [da maneira como eu me lembro dele]:

Ogro: "Parece que existem pessoas que vivem mais do que a gente. Não no sentido de tempo cronológico, mas de quantidade de vida mesmo. Como se elas pudessem viver mais de uma vida ao mesmo tempo. Como se elas fossem pessoas multiplicadas... É como eu vejo o Glauber... Ele era capaz de ser vários ao mesmo tempo. Enquanto que pessoas como nós só conseguem ser uma pessoa por vez. A nossa mutliplicidade nos seria insuportável."

Carcamano: "Porra, Mendel, assim você acaba comigo!"

Ele sorriu, tomou o seu último gole de Almadén e então mudamos de assunto...

14.9.06

Eu sou mais eu

Esse textículo foi um comentário que eu fiz para um post do Eletrochoque [com link aí do lado] e achei por bem reproduzir [acrescentando algumas pequenas partes] para os meus outros [parcos] leitores assíduos que ainda não viraram também assíduos do blog do meu amigo Moisés. Eu diria que é sobre frustrações e transformações. Mas pode ser sobre outras milhares de coisas:

"Nunca tive dúvidas, na minha infância e adolescência, de que um dia eu seria um homem de sucesso [seja lá em que área fosse]. Mas daí eu fui crescendo e crescendo e me pergutando: -Mas que bosta de dia é esse que parece sempre tão distante?... E então eu comecei a me indagar se eu realmente era aquele gênio que eu pensava [e todo mundo concordava] que eu era... Hoje me vejo cada vez mais longe desse projeto que fazia para mim mesmo. Mas, ao mesmo tempo, vi que alcancei coisas, conhecimentos, idéias, sensações, intuições, capacidades que jamais pensei em ter. Ainda não sei se a minha inteligência é maior ou menor do que a das outras pessoas em geral. Acho que isso não importa muito mais. O que conta é chegar aonde eu possa chegar. Não quero ser nem mais, nem menos do que eu mesmo. O diabo é que a cada dia sou um eu diferente, me entorto, me transfiguro.. De repente, brotam outros eus de dentro de mim! E me espanto. E me reconheço. E fico querendo mais [olha a incoerência aí de novo]. Contudo, me sinto melhor agora. Eu sou mais eu [matematicamente falando].

Ave cerva!"

12.9.06

A Coisa coisando por aí...

A coisa numa formiga por entre nossos dedos. A coisa numa euforia infantil ao ver o sonzinho comprado. A coisa plantando bananeira. A coisa genialmente coisa em Space Oddity. A coisa nas conversas à luz de velas no quartinho punk. A coisa com Ed cantando Adoniran. A coisa nos deliciosos bifes do Cloquet. A coisa em Dona Binho levantando para fumar um cigarro e voltar a dormir logo em seguida. A coisa insuportavelmente coisa nos gritos de Gal em Vapor Barato. A coisa nas incríveis histórias de uma mulher vitoriosa. A coisa nos animados brindes ao som de Yellow Submarine. A coisa no Tu do Eu. A coisa nos textos de Ms. Walmrath. A coisa num: "-Ahn?... Quê?... Colorado!?... Campeão!?". A coisa ao tomar café ouvindo a canção nº 4. A coisa na boca hipnótica. A coisa na vovó ao me confessar saudades. A coisa eternamente coisa na voz de Miltão. A coisa inimitavelmente coisa numa inimitável cara de Eldo. A coisa no silêncio para a canção saideira. A coisa na melancólica lucidez de Hank. A coisa no Mineirão. Leo Cohen coisando a coisa sem parar. A coisa no abraço fraternal de Rodrigão. A coisa na pontuação peculiar e nas ternas putas do Mirisola. A coisa no coração de Marião. A coisa sem meio termo. Por nome Elis. Por nome Morte. A coisa por nome Deus. Por nome Epifania. A coisa por nome Iluminação. Por nome Coisa. A coisa por nome Amor. A coisa por todos os nomes. A coisa sem nome.

P.S.: A Coisa foi descrita pela primeira vez como "A Coisa" por Neal Cassidy [vulgo, Dean Moriarty] ao presenciar um solo incandescente de Charlie Parker.