28.8.09

Faulkner e seus meandros

Primeiro li Palmeiras Selvagens. Agora estou lendo O Som e A Fúria. Mas ainda estou por descobrir os caminhos de Faulkner. Aparentemente, a leitura não é complicada. Ele não usa um vocabulário muito empolado. Só que a simplicidade pára por aí. A estrutura do texto te entorta inteirinho! Os meandros de Faulkner são meio inextrincáveis. Os acontecimentos se misturam sem uma ordem muito clara. É uma literatura líquida, sabe...

As histórias parecem corriqueiras. Mas só parecem. Você sabe que ele não põe uma vírgula gratuitamente. E a gente fica numa tentativa de desvendar o que há por trás de cada diálogo, de cada fato ou fatalidade... Sabe quando nos perguntamos assim: “Por que Deus permite que esse tipo de coisa aconteça?”. Com Faulkner seria: “Por que ele permite que eu saiba esses pormenores e esconde outros?” No fim, fica a mesma sensação com ambos: o que esse cara está tentando me dizer???

Acredito que quando eu chegar lá, pode ser uma grande revelação. Acho que o grande barato de Faulkner era botar essa pulga atrás da orelha de cada leitor. Deixar ele inquieto. Desconfiado. Como se quisesse mostrar que as aparências sempre, sempre, sempre enganam. E que há algo misteriosamente maior por trás de cada banal acontecimento.

14.8.09

Era um vez um homem que encontrou uma chave perdida em suas entranhas

Um espírito me tomou na última terça-feira. Ando tendo vertigens. E aquele tique nas pernas ao sentar. Como se fosse um telegrafista maneta... Tenho visões do futuro. Estalo os dedos. Canto. Assobio. Falo sozinho. Palavrões. Muitos palavrões. E fico saltitando. Elétrico e inalcançável. Como os grandes: Sugar Ray, Ali, De La Hoya...

A minhão visão embaça e desembaça a cada vinte segundos. Rio das minhas próprias frases. E as lágrimas me correm com frequência. Uma comoção tremenda de não sei o quê... Mas é bom! Riso e choro ao mesmo tempo.

Me olho no espelho. Vejo um chimpanzé. Um poeta. Um bandeirante. Acho que nunca tinha realmente me visto no espelho antes. Deixei de ser vampiro. Agora sou o Sol. E o meu dia amanhece. Cada minúscula fresta recebe a minha luz. E vou desvirginando, enfim, a minha América particular.

Sou pedra, pássaro e riacho. Eu sou o som e a ausência. Bile e sinapse. Meus dedos apontam para o alto, meus olhos alimentam-se de indolência e velocidade, e o meu coração faz tremer toda a terra.