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11.10.14

Dias Estranhos

Os últimos dias em BH têm sido muito estranhos. Apesar do céu sem nuvens e do Sol intenso, as temperaturas têm variado bastante. Uns dias de calor sufocante e outros de frio inexplicável! E ventos fortes! Muitos ventos! Daqueles que uivam...
Não sei se por coincidência, mas também tenho me sentido assim: meio estranho. Meus humores mudam a cada instante! E cada dia tem sido uma surpresa, pois posso acordar estupidamente feliz, ou, com preocupações tantas, que me deixam cheio de dores pelo corpo... Também houve dias de paz profunda e outros de melancolia...
Tenho tido palpitações e arrepios fora de hora. Minhas mãos gelam. E meus olhos, de repente, se enchem d´água!... E não pára por aí: meu apetite mudou. Perdi alguns quilos. E a minha gastrite ainda me castiga... Em compensação, virei um camelo, de tanta água que ando bebendo!... Larguei um pouco do café (que tanto mal vinha me causando). Mas, nessa semana, viciei em chiclete (Pena que não tenho encontrado mais do chiclete turco)...
Tento me distrair com filmes, TV, livros, Internet. Mas tudo me entedia!... Só a música tem me distraído um pouco...
Talvez esse turbilhão de sensações tenha alguma explicação. Talvez não. Tento não dar uma importância exagerada a essas "crises de humor". Creio que deva ser uma daquelas fases que todos nós, eventualmente, possamos passar por ela.
Penso mais em viver cada sensação, por mais inusitada que me pareça... E extrair dela algo que me valha. Que possa dar algum sentido a tudo isso...
Agora entram as férias. E mais uma bela viagem pela frente para curtir!... É possível que tudo se apazigue.
Não que eu ache ruim estas coisas que andam me ocorrendo. Só me sinto mesmo muito estranho!... Porém, como já disse, estou tentando viver esses dias da melhor maneira possível. E quando eles passarem, provavelmente ficarão guardados na memória. Espero, com fé em Jah, que seja pelos melhores motivos.

31.12.10

Pressing On

Último dia do ano. Não há como não pensar nas coisas que a gente realizou (e nas que a gente deixou de realizar)...

De uma maneira geral, foi um ano bastante bom. Muita coisa aconteceu (externa e internamente comigo). E o que achei (e acho) mais importante, foi poder aprender com cada momento.

Houve, sim, alguns percalços. Alguns já esperados. Outros foram surpresas muito pouco agradáveis. Mas muita coisa bacana também aconteceu. E o resultado, no fim das contas, foi bastante positivo para mim.

Acho que o que ficou, depois de um começo de ano com enormes expectativas, e a maioria delas não realizadas, é que eu preciso conhecer e respeitar o tempo das coisas. Não dá pra fazer as coisas no atropelo e, muito menos, ficar esperando em berço esplêndido... O problema é que dificilmente os planos saem do jeito que a gente quer, e no tempo que a gente imaginou...

Aprendi que não adianta eu querer recuperar um tempo perdido. Não vou, por mais que me esforce, atingir alvos que já ficaram para trás. Justamente porque eles já ficaram para trás!... É preciso nos perdoarmos pelas toneladas de "moscas comidas" durante a nossa juventude. Porque todos temos limites e o "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" é mais uma intenção (e um nome bacaninha para letra de música) do que um negócio realmente factível... Enfim, é preciso perseverar... E olhar para frente...

Uma descoberta bacana foi de perceber que a minha capacidade para lidar com os meus próprios problemas está se desenvolvendo. Isto é, falo da minha capacidade racional de examinar uma questão e aplicar o resultado da conclusão para a solução de meus lances cotidianos. Isso está sendo bem legal!... Só que o lado psicológico ainda é uma grande dor de cabeça. Minhas "neuras" tem me comprometido um bocado nesses anos todos. Mas elas já não me dominam tanto quanto em tempos passados. Acontece que agora eu estou, vanzolinamente, dando a volta por cima. Há ainda, é certo, muitas vitórias a conquistar. Mas o ciclo de auto-reclusão parece estar chegando ao fim.

2011 será um ano de muita atenção, trabalho e persistência. Com bastante fé e sem muitos desvios ou ilusões, tem tudo pra ser um período de muitas conquistas. Oxalá! Oxalá!...

Jah never let us down.

6.3.09

De Volta à Casa

Então... Retomei, esta semana, as aulas na Casa dos Quadrinhos, depois de um ano ausente.

É um lugar onde a gente se sente muito bem. A infra-estrutura é muito boa, o clima é agradável e, o mais importante, os profissionais são excelentes!

Em todos os módulos que fiz, aprendi bastante! E agora começo o de "Pintura e Ilustração" com o Prof. Cotrim. A primeira aula foi bastante animadora! Acho que vou evoluir bem neste semestre.

Daqui a algum tempo, com a ajuda de Jah, vou ficar realmente bom nesse trem de Arte!...

13.2.09

Fim de Noite

Na primeira vez que levei a gatinha ao cinema fomos assistir ao filme Paris, Eu Te Amo. Era Setembro. A noite estava agradável e após a sessão, caminhamos um pouco e tomamos um sorvete. A conversa foi agradabilíssima e nessa noite tive a certeza de que ela era a garota mais bacana que eu poderia ter encontrado no lugar onde trabalho. E essa sorte, eu não poderia deixar escapar. Como não deixei. Mas naquela noite, especificamente, não rolou nada entre nós.

Naquela época ainda não tinha comprado o meu Bandini, por isso voltamos de ônibus até onde ela morava, no Sagrada Família. Já passava das dez e, embora eu realmente quisesse, não pude me demorar muito, pois sabia que, nesse horário, os ônibus demoravam a passar. Então, nos despedimos rapidamente com um abraço na entrada do prédio onde ela morava.

Depois tive de andar alguns quarteirões até o ponto onde pegaria o meu ônibus, o 9211, lá na Av. Silviano Brandão. No caminho, mandei uma mensagem, via celular, agradecendo a gatinha pela ótima noite. Ao que ela me respondeu, pronta e delicadamente, também agradecendo.

Chegando ao ponto, enfim, por volta das dez e meia, comecei a aguardar o balaio. Assistindo, encostado ao poste, os últimos transeuntes passarem. Carros, ônibus voltando para os bairros com os trabalhadores e seus rostos cansados. Alguns casais, estudantes, chegavam e saíam do ponto. E eu lá, aguardando...

Onze horas, nada. Onze e quinze, nada. Onze e meia, nada... A essa altura, já estava sentado junto à porta cerrada de uma loja que ficava bem em frente. E lá fiquei na minha longa espera, enquanto divagava e devaneiava com as coisas da vida...

Lá pelas tantas, quase meia-noite, veio caminhando um garoto. Parecia ter uns treze, quatorza anos, no máximo. Era magro. Trajava apenas uma camisa de malha, bermuda e chinelos. Logo pensei tratar-se de um trombadinha. Mas permaneci impassível. Chegando ao ponto, veio em minha direção e perguntou: Moço, tem um real pra me dar? Ô, num tenho não. Respondi balançando a cabeça. Nem uma moedinha? Não. Repliquei.

Perguntou então se podia se sentar. Com um leve gesto com a cabeça, permiti. Ficou assim a uns três palmos de mim... Tá esperando o “ônus”? Sim. Qual? 9211... O senhor mora por aqui? Não. Mora aonde? Já com um certo incômodo, falei que não responderia a essa pergunta. Ficou então calado por um minuto e depois mudou o rumo da conversa: Moço, (arredou-se um pouco para o meu lado) o senhor é tão bonito! Eu nada disse. Ele ficou me olhando... Posso te dizer uma coisa? Calei, fitando a rua deserta. Estou com uma vontade de dar o cu hoje... Assustei-me pela primeira vez: Ah é? Mas não é comigo que você vai conseguir isso, não! Oh moço, por favor, eu nem te cobro nada. Não! Já mais grossamente, retruquei. O senhor já provou? Não, nem quero provar. Ô moço, é tão gostoso!... Escuta aqui, você não vê que não vai conseguir o quer comigo! É bom procurar outro! Ele não desistiu: E se eu desse uma chupadinha no seu pau? Cara, vai embora! Ele deve ser enorme! Não é da sua conta, garoto! Já disse pra ir embora, não vai conseguir nada comigo!...

Quem me conhece sabe que é praticamente impossível me tirar do sério, mas aquele moleque conseguiu. Já estava pensando se seria necessário “partir pra ignorância” se ele continuasse com aquela amolação. Mas ele parou. E fez um falsa cara de choro que não me comoveu. Daí fez-se um silêncio. Mas permaneci incomodado com aquela situação, com aquele menino do meu lado...

Enfim, à meia-noite e dez, quase duas horas depois de eu ter chegado ao ponto, veio vindo o meu ônibus. Levantei-me então, aliviado. Dei sinal, o menino perguntou com voz triste: Já vai? É o meu ônibus. Tchau! Tchau, respondi sem pensar. E entrei... Paguei a passagem e sentei no ônibus vazio. Com a cabeça encostada na janela, ofeguei. E fui acompanhando, pelas ruas onde o balaio passava, os estranhos seres da noite de Belo Horizonte...

5.2.09

O Doutor e A Saideira

Houve uma noite no Lua Nova em que o Djovem Red encontrou um velho amigo seu que eu, imperdoavelmente, esqueci o nome. Abraços e apresentações e histórias e conversa jogada fora e muita cerveja: tudo como manda o figurino. Mas acontece que o Lua Nova fecha cedo, então, como não poderia deixar de ser, a noite teve de ser extendida em outro local.

Fomos pois, eu, o Doutor, o Djovem Red e o nosso amigo para o Paracone, ali na Av. Brasil. E tome cerveja! Depois forramos levemente o estômago. E mais cerveja e mais bate-papo. O Doutor empolgou-se com o nosso amigo, pois ele demonstrava ser um grande conhecedor de Chico. E ficamos, assim, a relembrar várias de suas canções madrugada adentro. E, como sempre acontece quando que se fala nele, o Doutor vem com aquela hipótese de que toda mulher teria obrigação moral de dar para o Chico, se ele assim o desejasse. E criou-se, pra variar, uma ligeira polêmica. Mas nada que alterasse o bom espírito de camaradagem daquela noite agradabilíisima.

Lá pelas tantas, partiu o nosso amigo, alegando que não poderia chegar muito tarde em casa, pois não tinha avisado à patroa (Detalhe é que eram mais de quatro da manhã a essa altura). Ficamos, por fim, a trinca ferranca: eu, Ed e Red.

Já devidamente etilizados, passamos então a agraciar os ouvidos dos presentes com um saboroso desfile de pérolas do nosso rico cancioneiro popular, pois a noite pedia por isso: Ronda, A Volta do Boêmio, Negue, Fica Comigo Esta Noite, Saudosa Maloca, Iracema, , As Mariposas, Conversa de Botequim, Palpite Infeliz, Último Desejo, As Rosas Não Falam, O Mundo é um Moinho, Preciso me Encontrar, Chega de Saudade, Eu Sei Que Vou Te Amar (com o Doutor declamando o Soneto da Fidelidade à maneira de Vínicius), Samba da Bênção, Canto de Ossanha, Berimbau, Carta ao Tom, Samba do Avião, e outras tantas que cantamos, não necessariamente nesta ordem.

Quando passava das cinco e meia da manhã, nos chega o garçom e avisa que não seriam mais servidas cervejas, nem quaisquer outras bebidas alcóolicas. “Como assim, não vão servir mais?”, retrucamos. “E a saideira?”, pedimos sorrindo. “Não tem saideira.” Respondeu secamente o garçom. Tomados de indignação, ainda tentamos por mais algumaz vezes argumentar que é inadmissível que não se sirva a saideira num estabelecimento que, conforme a placa informava, era 24 horas! Mas não houve recurso. A nossa última cerveja foi terminantemente recusada.

Passados uns vinte minutos, voltou outro garçom para recolher os copos. Primeiro o meu, depois o do Djovem Red. Ao tocar no copo do Doutor, este interrompeu bruscamente, segurando o braço do infeliz garçom com energia, e esbravejou: “Ninguém tira este copo daqui, enquanto não me trouxerem a saideira!”. Todos em redor se viraram para acompanhar e o pobre empregado se assustou de tal maneira que ficou por segundos sem ação e depois largou o copo sobre a mesa.

Fomos informados de que só seria novamente ofertadas bebidas depois das 9 da manhã (!!!). O Djovem Red, por fim, desistiu, dizendo que “estava colando o platinado” e foi-se para a sua casa, com o dia já quase clareando. Eu, por minha conta, não via tanta necessidade de uma saideira. Mas, para o Doutor, aquilo era ponto de honra. Fiquei mais para fazer companhia a ele e para manter a fama recém-adquirida de ser o mais resistente da turma.

Vimos então o dia despontando, os funcionários recolhendo as mesas e cadeiras para fazer a limpeza, as primeiras pessoas se encaminhando para o trabalho, os pássaros revoando, os primeiros circulares começando a rodar, enquanto continuávamos devassando o arquivo da MPB, já sem o mesmo ânimo de três horas atrás.

Às 7 horas e 20 minutos foi a minha vez de pedir licença. Com vontade resoluta, o meu amigo não arredou pé e me disse alguns impropérios quando me levantei para ir embora, mas que logo relevei a caminho de casa.

Permaneceu, desta maneira, o Doutor Edmundo aguardando pacientemente (ou não) a sua saideira, pitando o seu Carlton verde. Segundo me relatou posteriormente, foi-lhe servida uma última cerveja às 9 horas em ponto. Ao que, depois de degustá-la lenta e saborosamente, pagou a conta, agradeceu e partiu satisfeito para se recolher à sua residência naquela ensolarada manhã de Sábado

2.2.09

Lua Nova

Desde a época em que comecei a beber, lá em Montes Claros, sempre me interessei pelos botecos, mais que pelos bares da moda. Com sua absoluta informalidade e presença de tipos dos mais variados, eram lugares onde me sentia (e ainda me sinto) muito mais à vontade. Quem vai a boteco não vai para paquerar. Ou esta não é a prioridade, pelo menos. Geralmente, o indivíduo sai do trampo e vai direto para lá. Suado, do jeito que estiver... O objetivo é simplesmente relaxar das chicotadas que a vida lhe dá durante o dia. Tomar umas cervejas e jogar conversa fora.

Mas apesar de achar os botecos lugares super-agradáveis, só fui me tornar um bom frequentador mesmo depois que me mudei para Belo Horizonte. E, cá entre nós, cidade mais apropriada para esse hábito não há... Desde os tempos do Clube da Esquina, a fama dos bares e botecos daqui já correu o Brasil e o Mundo. E, sendo uma cidade ligada tanto à tradição quanto à vanguarda, BH tem em sua vida boêmia essa marca, essa capacidade de convivência pacífica e enriquecedora, um vai-e-vem de gentes das mais díspares tendências e gostos, que se reúnem em volta de uma mesinha para celebrar essa diversidade, esse jeito mineiro de declarar o seu compromisso com a Liberdade, e de demarcar campos onde a Democracia pode ser realmente plena.

Sem dúvida algum de que o boteco é este espaço. Lá a voz do Advogado, vale tanto quanto a do barbeiro. A do fazendeiro tanto quanto a do estudante. E a do jovem tanto quanto a do velho. A heterogeneidade dos clientes é a sua graça, e a coexistência de pessoas que, em outro ambiente, mal trocariam um “Bom Dia” é o seu maior charme e chamariz.

O Lua Nova é um desses botecos. E foi o primeiro que eu, efetivamente, frequentei na vida. Duas, três, ou até quatro vezes por semana, lá estava eu “batendo ponto”. É um estabelecimento que tem bastante história, e já virou até livro e documentário. Atualmente fica no 2° Piso do Edifício Maletta e, dizem, já foi frequentado por Milton Nascimento e a sua turma. Mas isso foi em outra época, quando o bar ainda funcionava no piso de baixo. Há cerca de 15 anos foi adquirido pelo atual proprietário, o Juventino. Meus amigos sabem melhor da história, mas me parece que o Lua Nova, e a própria galeria do Maletta, passaram por períodos meio tenebrosos, com presença constante de baixos-traficantes, prostitutas e mal-encarados em geral. As batidas policiais eram rotina e, nas “boas famílias” era recomendado que se passasse longe daquele lugar...

Mas o tempo passa. E as coisas mudam. Hoje, o Juventino dá graças a Deus, pois ele diz ter conseguido “expulsar os vagabundos” do seu bar. Mesmo com aquele tamanho todo que ele tem, aquele mau-humor e o indefectível bigodão de mexicano, deve ter sido dureza! Ainda se vê, vez por outra, uns tipo meio estranhos circulando. Mas em 99% dos casos, eles são só isso mesmo: “uns tipo meio estranhos”. Não fazem mal a ninguém. E, de certa forma, até dão um clima underground bacana ao Lua Nova. Quem frequenta sabe que são quase sempre as mesmas figuras. E, à medida que o Ju (o Juventino) vai “pegando confiança” com você, ele começa a lhe contar as histórias dos frequentadores, entremeados por rabugices e muitos, mas muitos comentários sobre futebol.

O “Cardápio” do Lua Nova não é lá muito extenso, e nem tão saboroso. De modo que o pessoal se reúne mesmo é para beber. Dica: jamais, jamais pergunte ao Ju se tem cerveja gelada, pois é bem capaz de receber um “coice” daqueles, mesmo que a breja nem sempre esteja, efetivamente, na temperatura ideal... A decoração é inexistente (como em todo bom boteco) e o banheiro, bem, é um banheiro de boteco. Vocês sabem como é...

Mas o Bar do Ju, como é mais conhecido pela galera de hoje em dia, tem um “quê” de atraente. E quando se dá por si, é sempre o primeiro lugar que vem a mente quando se pensa em “tomar uma”. E assim, fui tomando contato (e me tornando amigo) de pessoas super-legais, jovens que são capazes de estabelecer um papo bacana, sem ser vazio, pedante ou entediante. Pessoas que compartilham suas experiências sem preconceitos e, incrivelmente, escutam o que você tem a dizer.

Acontece que, infelizmente, não estou podendo mais exercitar a minha boemia no Lua Nova (nem em lugar nenhum), já que mudei o meu horário de trabalho para a noite. E, como dizia o Marquinho lá da Gerel, "profissional" não frequenta bar em fim de semana. E então, toda Sexta, quando passo em frente do Maletta, voltando para casa na Van, às 2 da manhã, fico me lamentando: ê, saudade de tomar uma cerveja no Bar do Ju com os amigos!...

Mas penso que a vida é assim mesmo. Chegou a hora de curtir outras paradas. Estou até gostando do trampo noturno. E sei que muitas outras viradas estão reservadas para mim no futuro. Ainda tenho muito o que experimentar... Bom é guardar estes momentos felizes na memória. Outros virão. Em botecos ou não, o lance é esse: curtir o que de melhor as vivências podem lhe proporcionar e agradecer a Jah por essas preciosas oportunidades.

13.1.09

O Doutor e o Inseto

Sexta-feira. Eu estava lavando o meu rosto na pia do banheiro, quando senti um leve roçar por entre os dedos do meu pé esquerdo. Em meio segundo conclui que aquilo só poderia ser uma barata trançando sobre o tapete. Nesse instante, dei um passo rápido para trás. Esse movimento certamente a assustou porque quando dobrei os joelhos para ver aonde a danada estava, não a encontrei. Passei a vista, então, por todo o banheiro. Dei outro passo para trás, uma olhada mais minuciosa e nada. Acendi a luz do quarto ao lado: niente... Quando, de repente, vi algo subindo pelo marco da porta. Pronto. Lá estava ela.

Logo fui buscar o inseticida no armarinho da área de serviço. Com a experiência adquirida em exterminar las cucarachas para a minha mãe e as minhas irmãs, sabia que ela provavelmente estaria no mesmo lugar quando eu voltasse. Assim foi. Posicionei então o aerosol a uns dois palmos da bicha e apertei o botão. É um método bastante eficiente. Obviamente que a espertinha tenta fugir, mas basta acompanhar a andança dela com o dedo colado no spray da lata. Em menos de 6 segundos ela desiste e cai, agitando desesperadamente as patas para cima. Daí vem o golpe final, com uma havaianada esmagadora. A gosma branca que sai de suas entranhas decreta o seu fim. Recolho a finada e jogo-a no lixo. Tá feito o "selviço"...

Mas o que eu queria, na verdade, era contar de um episódio que aconteceu com o Edmundo: estávamos um dia num boteco, que eu não me lembro qual é. Só sei que não era o Lua Nova, porque lembro de estarmos numa calçada ao ar livre.

Num determinado momento, reparei que, de uma mesa ao lado da nossa, veio caminhando sorrateiramente o inseto supra-citado. Não pude deixar de espiar o roteiro que ele fazia. E assim, ao ver que eu não estava prestando atenção na conversa, o Doutor voltou os olhos para trás e viu o que eu estava acompanhando. Imediatamente, ele torceu o corpo e catou a barata entre os seus dedos. Daí extendeu o braço na minha direção e ficou chacoalhando a barata a dois palmos da minha cara e dizendo "É com isso que você está preocupado? Isso é só um inseto, caralho! É só um inseto!" Juro que achei que o Doutor iria atirá-la em cima do meu nariz, ou então partí-la ao meio com os dentes. Mas ele apenas continuou segurando a coitada por alguns instantes, virando-a pra lá e pra cá, observando o casco marrom-escuro e as patas que se agitavam freneticamente, enquanto recitava os primeiros versos de "Bichos Escrotos". Acho que se pudéssemos ouvir a barata naquele instante, ela estaria vociferando: "Me larga, seu covarde! Vai procurar alguém do teu tamanho!". Após a "sessão titânica", o Ed, com cuidado quase solene, soltou a desesperada barata no chão novamente. Depois disso, continuou a prosear, a beber e a comer como se nada tivesse acontecido.

O que me ocorreu foi que, às vezes, o Edmundo costuma chupar os dedos depois de comer algum petisco gorduroso servido, já que ele não é muito afeito a estas "frescuras" de usar palito ou garfo em botecos. Não me lembro se ele chegou a fazer isto naquela noite. É bem provável que sim. Mas, ainda bem, a minha memória apagou esta parte da história...

Quanto à barata, a bichinha sumiu de vista da nossa mesa como um raio! Certamente, ela deve ter pensado sobre o Ed algo semelhante ao que eu pensei: "Que cara louco!"...

8.1.09

Insônia

De uns meses pra cá a insônia me persegue. Chego em casa do trampo lá pelas 2 da madrugada. E fico horas para conseguir dormir. No início, também tinha dores de cabeça terríveis! Tentei uma Neosa. Não deu certo. Duas Neosas! Também não. Dorflex: nada feito.

Tive de ir à médica. Ela me mandou fazer uns exames: eletroencefalograma e tomografia. Nada de anormal. Então, passou um remédio. Amitriptilina. É um anti-depressivo, mas a Doutora disse que iria parar com a dor e me ajudar a dormir melhor. O comprimido é minúsculo, mas nas primeiras noites fui orientado a tomar somente meio antes de sair do trampo. As dores de cabeça sumiram. Mas a insônia ficou. Então passei a tomar um comprimido inteiro por vez, conforme orientação da médica no retorno. Ajudou por alguns dias, mas depois ela voltou. A insônia, digo.

Busquei também soluções alternativas: alguns me recomendaram chá de camomila, de erva-cidreira. Outros uma caneca de leite quente, um banho morno, técnicas de respiração profunda. Por enquanto, nada adiantou. A médica deixou comigo uma amostra grátis da Amitriptilina e mais uma outra receita, sem data, para eu poder adquirir mais 40 comprimidos. O remédio é de venda controlada e o atendente da farmácia, quando vê a receita, me olha esquisito, confere novamente pro papel, depois pega os meus dados (identidade e endereço), bate um carimbo, anota um número qualquer de controle e retém a receita.

Ao botar o comprimido na boca, dá pra sentir que ele é potente. Tem um gosto forte... Em casa, tomo um gole d'água e vou para o meu quarto. Apago a luz, me deito, fecho os olhos e espero... E espero, e espero, e espero, e espero, e espero, e espero... Depois de já ter revirado na cama umas trinta vezes, abro os olhos e fico olhando para o contornos do plafon no centro do teto com a fraquíssima luz que vem de fora da janela, por entre as frestas da persiana...

Tem dias que eu durmo rápido. Mas bem antes de o Sol despontar já acordo e não consigo mais dormir. Daí me levanto e vou ler uma revista, navegar na Internet, ou até mesmo lavar a louça que deixei do dia anterior. Ainda bem que os primeiros cantos de passarinhos ao amanhecer já não me deprimem mais como antigamente.

E se acontece de eu acordar mais cedo, quando chega a tarde e a noite, já no trabalho, vem a maior soneira. Mas ao chegar em casa e me deitar na cama, o sono simplesmente some!

Acho que não é uma boa coisa usar remédios de forma continuada. Mas, de repente, vou ter de voltar à médica. E ela certamente vai me passar mais alguma receita. Com o mesmo remédio ou com outro. Não tenho saco para viver dopado. Nem talento para ser hipocondríaco. E não estou achando essa história de insônia nada legal.

7.1.09

Nosso Bom Amigo

Voltando ao assunto das resoluções para 2009, uma das conversas que tive com a gatinha esses dias foi sobre isso. E, além daqueles projetos pessoais, em relação a trabalho, compras, viagens, ela me disse que também tinha uma preocupação com algumas questões, assim, digamos, sociais (e ambientais).

Disse que, às vezes se sente até culpada por ainda não estar explicitamente envolvida com esse tipo de ação. A sua principal atenção, desde que a conheço, é com os animais. Ela tem dois gatos adotados em casa. E sempre se comove quando tem notícias de maus-tratos a algum bichinho.

Lá perto de minha casa mesmo, há um cachorro que fica preso num terreno baldio. Já está lá há meses, sem nenhum abrigo. E, na época de chuva, o bicho sofre de dar pena. Sempre levo um pouco de comida pro Bon Ami, como o chamamos, e já ligamos duas vezes pros órgãos de proteção. Mas ainda não adiantou.

Já pensamos em libertá-lo na marra, abrindo um buraco na tela de arame, mas depois pensamos o que seria dele se ficasse solto pelas ruas. É meio complicado, porque lá, pelo menos, tem alguma comida garantida, apesar de não ter um abrigo decente. O seu único "teto" é uma pequena mesa de madeira improvisada para proteger a ração, que o dono do terreno deixa por lá de vez em quando. Não sabemos quem é o cara. Já deixamos alguns recados escritos pra ele. Mas não sei se realmente se importou com o que leu. Parece que não. Então, o Bon Ami é obrigado a dormir em cima da própria comida...

Vamos tentar novamente a Sociedade Protetora dos Animais, porque, das outras vezes que ligamos, não conseguimos falar com ninguém. Se alguém se interessar por adotá-lo, a gente pode ver também como se pode dar um jeito... Seria bom começar 2009 com o Bon Ami tendo um lugar melhor para ficar, e os donos de animais tendo mais consciência da fragilidade e da importância do cuidado que esses nossos amigos merecem.

18.12.08

O Guarda-Chuva


Quem sabe me dizer, sem pestanejar, qual é o plural de guarda-chuva? Ficou na dúvida? Esta é só uma das questões que nos afligem quando vem a época de chuva e entra em cena esta "grande invenção da humanidade"..

Vamos a alguns exemplos: quando você está para sair de casa e forma-se aquele céu carregado, não me diga que não pensa: "levo o guarda-chuva ou não levo?" (...) "Se chover fraquinho, beleza! Estarei a salvo... Se for um pouco mais forte, tudo bem. Vai molhar só a barra da calça. Quando chegar em casa eu ponho na máquina... Agora, se cair um toró daqueles, daí vou ter que ficar debaixo de uma marquise qualquer, porque o fedaputa do guarda-chuva tá meio quebrado!" (...) "E tem sempre aquela gotinha que fica caindo bem em cima do meu nariz, que eu procuro, procuro, e não vejo buraco nenhum!" (...) "Isso quando a porcaria do botãozinho cisma de não abrir o guarda-chuva e eu fico lá apertando, apertando que chega a doer o dedo! Malditos chineses!"...

Mas pode ser que não chova. Daí pensamos: "Eu tenho que ficar carregando esse trambolho pra cima e pra baixo! Não sei pra quê que eu fui comprar essa barraca ambulante! Podia ter deixado em casa" (...) "Olha aí, o Solzão que tá fazendo! Só esperou eu sair de casa com a porra do guarda-chuva na mão pra aparecer!" (...) E todo mundo te olhando torto na rua e pensando: "por que é que esse Manezão ainda tá com o guarda-chuva na mão? Era tão óbvio que não ia chover!"...

Ou pode acontecer exatamente o contrário: você sai carregando o dito cujo e, de repente, começa uma garoa. Naquele momento, a gente fica calculando se seria a hora ou não de abrí-lo. Mas sempre tem alguma mãe, namorada, esposa, irmã ou qualquer outro equivalente do sexo feminino que se antecipa e lhe repreende: "Vai ficar aí nessa chuva de molhar bobo?". Então, você abre o guarda-chuva, com uma cara de bobo que surge naquele exato instante, e que todo mundo na rua, constrangedoramente, passa a reparar...


Mas não é só isso! Veja que quando está chovendo no Centro, as pessoas ficam muito mais atarantadas do que de costume. Se esgueiram, se abaixam, correm, trombam, é sombrinha subindo, guarda-chuva descendo, abrindo, fechando, esbarrando na cara dos que passam... E quando a água começa a descer um pouco mais forte, aqueles que estão com as sombrinhas abertas são os primeiros a correr pra debaixo das marquises!?!?!... Enquanto os que não tem, saem xingando pelo meio da rua os outros "espertinhos"...

Outro problema é onde colocar o guarda-chuva molhado. Se tem algum canto pra deixar ele aberto no trabalho ou na escola, ok. Mas há lugares em que não tem como fazer isso e a gente tem que ficar com aquela coisa pingando no seu sapato, molhando a sua mão, a sua roupa... Ou então, você o encosta em algum lugar e, simplesmente, o esquece!... Acho que o guarda-chuva só não é mais perdido do que Caneta Bic... Só no ano passado eu perdi três! Fico olhando para algumas pessoas que têm o mesmo guarda-chuva por anos e anos e me perguntando: "Como pode?... Não é possível! Esse cara deve ter algum segredo!" (...) Não importa o tamanho, grande ou pequeno, eu sei que ao comprar, vou perdê-lo em, no máximo, três semanas...

É por isso que esse ano eu decidi: não compro mais guarda-chuva. Se tiver que molhar, que molhe! É um problema menor, perto dos transtornos que este objeto infame causa na minha vida e na vida das pessoas.

P.S.: Nem precisava dizer que para os homens, há pelo menos uma coisa no guarda-chuva que não incomoda: ele é sempre preto. E garanto que todos os senhores de respeito estão supersatisfeitos com essa falta de opção.

16.12.08

Homo Perdidus

Dia desses eu estava caminhando ali pelos lados do Sion e Anchieta para chegar à Rua Joaquim Linhares. Esta rua faz esquina com a Av. Bandeirantes e eu fui me orientando por esse marco. Acontece que, fazendo isso, eu dei uma tremenda volta, e cheguei ao meu destino "botando os bofes pra fora", como diria o pessoal lá da minha terra.

Acreditei que, descendo do ônibus, ali na N. S. do Carmo com Rua Montevidéu, o melhor a fazer seria seguir esta última, subir a Av. Uruguai até bem pertinho da Bandeirantes e ir margeando esta avenida até chegar na Joaquim Linhares. Só que esse trajeto fez com que eu quase dobrasse a distância que tinha a percorrer. Eu não precisava subir a Uruguai, mas sim atravessá-la. Se fizesse assim, cairia direto numa outra rua que daria acesso muito mais rápido e direto ao meu destino.

O ponto é que é impossível para mim, como para qualquer outro ser humano normal, saber de cór as ruas e trajetos de uma cidade grande como Belo Horizonte. A gente se orienta por alguns poucos pontos de referência, que ajudam a nos localizar e deslocar. Acontece que, mesmo assim, nos enganamos com uma facilidade absurda quanto à exata localização destas referências. Particularmente para nós, machos, esse tipo de falha causa profundo desgosto...

Já é da nossa tradição (e quando digo isso, me refiro à Idade da Pedra) que consigamos ter uma boa noção de localização, porque era o homem que sempre saía para arranjar comida para si e para a sua prole. Então, ele simplesmente tinha que saber isso para poder voltar pra casa (ou pra caverna, como queiram) e alimentar a sua fêmea e os seus filhos. Isso de mulher poder ir e vir de lá pra cá é coisa recente, talvez de uns 100 anos pra cá. Ou seja, pelos milhares de anos acumulados de “saída para a caça”, os machos têm, instintivamente, uma maior desenvoltura para deslocamentos.

Porém, me parece que a vida nas cidades está fazendo com que toda esta experiência embutida nos nossos cromossomos Y esteja regredindo. O emaranhado urbano se tornou tão complexo, com tantas regras e orientações (leia-se sinais e placas de trânsito), que a capacidade natural do homem parece estar se perdendo, pois ele “não precisa” mais desta capacidade para se orientar. "É só seguir as placas"...

Às mulheres (perdidas ou não) sempre lhes foi concedido o dom de saber usar a boca muito melhor do que os homens. Então, o que era desvantagem, hoje em dia, já está quase virando handicap feminino. Achincalhando a moral dos machos por ter chegado a um determinado local mais rapidamente, usando o recurso eficaz do “pára e pergunta”... Mas acho que isso seria nos submetermos à uma estratégia que não é a nossa. Ou seja, ao abandono de uma habilidade milenar, uma das poucas que temos mais desenvolvidas do que as de nossas incríveis parceiras. Então, sem chance!...

Outra coisa: para mim, essas paradas de GPS, Navegador, satélite e o caralho de asas turbinadas não funcionam. Homem que é homem não precisa desses “brinquedinhos” para sair de casa. Apesar de djovem, para certas coisas, eu sou um cara bem antiquado... É possível que sujeitos como eu estejam caminhando para a extinção. Em breve, viveremos num Mundo onde precisaremos, vou frisar, “precisaremos” de aparelhos eletrônicos e dos veneráveis recursos e táticas femininas para chegarmos a algum lugar. Talvez isso seja reflexo de uma nova era. Ou, em outras palavras: “Esse Mundo tá acabano mêss’!...”

2.12.08

Meias e Cores

De uns tempos pra cá desenvolvi uma certa obsessão por meias. Devo ter hoje cerca de 30 pares. E, por onde vou, sempre reparo nas meias que as pessoas estão usando e naquelas que estão nas vitrines das lojas. Já dei algumas para a minha namorada, e outro dia quando vi que uma meia velha que ela tinha estava a ponto de furar, lhe prometi mais alguns pares.

A obsessão é mais especificamente por meias pretas. Pelo menos metade das minhas devem ser pretas. Acho que há pelo menos duas vantagens para se escolher esta cor: 1° elas combinam com qualquer calçado e qualquer roupa que se vista e, 2° escondem melhor aquela sujeira da sola que fica super evidente nas meias brancas. Não que eu seja um porco que não lave os pés e usa o mesmo par de meias por mais de uma semana. Pelo contrário. O grande número de pares que tenho se justifica justamente por trocá-las a cada uso.

Isso é bom não só para facilitar a lavagem e não deixá-las encardidas, como também e, principalmente, para evitar aquele odor agradabilíssimo que exala dos pés menos bem cuidados.

Outro ponto é que o preto é a minha cor favorita. Isso explica alguma coisa... Se pudesse só usaria preto. Não sou gótico, nem headbanger, nem nada. Apenas gosto da cor. Mas com o calor infernal que anda fazendo nos últimos anos, é bem difícil usar preto todos os dias. Exceto no que tange a meias...

Também gosto bastante das meias de cor cinza. Mas aí já é por mera questão estética, pois acho que elas combinam melhor com calças jeans...

Na verdade, acho que também tenho uma certa obsessão pelas cores preto e cinza. Gosto da gravidade que elas representam. Afinal, eu sou um cara sério. E não acho muito bacana enganar as pessoas. Nem no conteúdo, nem na aparência.

14.2.08

We're just kids

I wanna keep that ant above our fingers forever.
And laugh, and laugh, and laugh, and laugh...

24.10.07

A Teoria dos Espelhos

Esta teoria surgiu num lugar onde as pessoas dançavam. Por dez contos, reuniam-se em um porão quente e pouco iluminado, com potentes caixas de som e um bar, onde se adquiria boa cerveja. Naquela noite, entretanto, mantive-me sóbrio. Assim como o meu amigo Moisés que me acompanhava.

Como é de praxe nesses lugares, era preciso gritarmos no ouvido um do outro para que pudéssemos trocar alguma idéia, alguma impressão sobre o que rolava por ali. Basicamente, sobre a música e as garotas do lugar. Rimos muito quando o Moisés me disse que "a loira" estava flertando com ele. E eu tive que desapontá-lo porque a azaração da loira era comigo. Mas enfim, como somos desgraçadamente tímidos, nenhum dos dois tomou qualquer iniciativa. E assim "a loira" foi embora lá pelas tantas, visivelmente desapontada, após dar vários foras nos outros caras que se arriscaram a dizer qualquer coisa em seu ouvido. Ela definitivamente queria um de nós dois...

Este duplo vacilo com a loira foi o contraponto divertido da noite ao peso das constatações que tivemos no observar a galera do local.
A empolgação era geral! Muitas e muitas cervejas e o DJ mandando ver em clássicos dos anos 80. Garotas e rapazes soltando corpo e voz, extravasando toda a tensão acumulada do "mundo lá fora", tentando esquecer por alguns instantes suas angústias, receios e problemas.

Mas o que eu vi, o que o Moco viu, não era bem isso. Ninguém se esquecia de nada! Cada rosto embriagado, cada corpo saltitante revelava, no fundo, uma tristeza e desapontamento rascantes. E quanto mais embriagado, quanto mais alto se cantava, quanto mais se desinibiam os passos, mais evidente era a melancolia daquelas pessoas.

Percebemos então, eu e o Moisés, que todos estavam ali para se encontrarem. Encontrarem, nem que fosse por poucos instantes, algo que pudesse libertá-los de toda a torturante dor que eram obrigados a carregar dentro de si. Uma dor acumulada, uma profusão de gritos, socos e gozos reprimidos pela "necessidade" de um bom convívio social. Como se fosse possível ali, num quase anonimato e num quase breu, tornarem-se, finalmente e paradoxalmente, eles próprios.

A evidência da melancolia se daria então no momento exato em que aquelas pessoas, na crescente excitação e êxtase propiciados pela embriaguez etílica e sonora, tinham o tão aguardado encontro com elas mesmas, quando poderiam, enfim, mostrar a todos o quanto eram seres "especiais" e merecedores de apreciação. Contudo, nada encontravam em si. Aquela explosão de existência prestes a acontecer convertia-se, instantaneamente, num passo para o vazio. Ninguém percebia coisa alguma de especial no outro. A não ser [para alguns poucos de clara visão] uma assombrosa constatação de que todos ali eram reflexos uns dos outros. Em cada brinde, em cada verso cantado junto, em cada passo desensaiado, a mesma busca e o mesmo desencanto. Os olhos de todos e de cada um eram como espelhos. Todos se viam refletidos. E todos eram tristes...

Assim constatei na minha sóbria observação. E é estranho pensar que pouca gente está preparada para essa "ousadia do encontro". Daí tem-se mais um paradoxo: é, ao mesmo tempo, uma busca e uma fuga. E que, prestando-se a devida atenção, tendem a convergir para um mesmíssimo ponto: a verdade.
A verdade de sempre. Aquela que, naturalmente, nos escapa e nos persegue...

22.9.07

Diálogos Virtuais do Ogro: Tarantino´s Mind

Ogro diz:
Oi.

Artemis diz:
Tô assistindo: http://www.youtube.com/watch?v=hY4n6DPIx_4

Artemis diz:
Mas o farsante do Seu Jorge não me convence!...

Ogro diz:
Nem a mim... apesar de eu ter gostado do Farofa Carioca na época...

Artemis diz:
ahhhhhrrrggghhh

Ogro diz:
Seu Jorge, Ana Carolina, Vanessa da Mata... é produto pra classe média pseudo-antenada...

Artemis diz:
Céu ....

Ogro diz:
Céu se apresentou aqui ontem... Um amigo meu me chamou... Preferi vir pra casa..

Artemis diz:
Eu acho que ela pelo menos é interessante musicalmente ... Mas só o fato de fazer cover do Chico Buarque já faz ela perder muuuuitos pontos ...

Ogro diz:
Chico virou Deus... Mas, felizmente, ainda há ateus nesse Brasilzão!...

Artemis diz:
Nem acho que o problema seja ele ... É mais essa idéia de culto ao cara, de todo mundo novo que aparece ir lá e tomar a benção dessa gente velha ...

Ogro diz:
Sim... os deuses são deuses, a despeito de seus fiéis.

Artemis diz:
Tem uma banda nova legal que chama ecos falsos ... É uma banda de indie rock, não tem nada de ‘brasileiro’ no som deles ... Mas eles chamaram o Tom Zé pra participar do disco ... E é o Tom Zé que chama atenção... Isso é ridículo!

Ogro diz:
Tom Zé é o ícone maior dos “pseudo-antenados”... Midiaticamente falando, é claro...

(...)

(...)

(...)

Ogro diz:
Será que é tudo mesmo um só filme?

Artemis diz:
O quê?

Ogro diz:
...a teoria do Selton Mello.....os mesmos personagens e tal..

Artemis diz:
Tem a ver ....

Pode ser que sim... Só sei que o cara é inteligente o suficiente, então ...

Ogro diz:
E o que acha do Selton Mello?

Artemis diz:
Eu gosto do Seltinho...

O cara é bom ator ... Apesar de ele estar sempre com o mesmo cabelo e a mesma barba, independente do personagem, o cara te convence ...

Aliás, perto dele, o Seu Jorge fica ainda mais obviamente farsante...

Ogro diz:
Hehehe.

17.1.07

Vertiginosamente verdes, meus dias caíram em seus olhos (ou Viva a Heróica Resistência Iraquiana!)

Noites mal dormidas. Aliás, noites não dormidas. Perambulando pelos bares, conversando com as pessoas. Garrafas vazias, copos cheios. (Ô Fê, mais uma!)... Encontros, afinidades, coincidências, discussões, desafios, listas, poesias, canções, rosas... Novas e eternas amizades. Amores talvez. Mandruvás às avessas. Chatos convictos. Dançando Yeah Yeah Yeahs. Esperando Brechts. Venerando Fuchs e defendendo os nossos jilós... Chuvas de verão temperando as nossas descobertas... Dias frenéticos, alucinantes. E os corpos plásticos e obtusos resistem à queda..
I wanna be Sal Paradise to ride and ride and ride for ever and ever...

8.10.06

Solidário

Caros amigos, este blog aderiu, desde a última terça-feira, à greve por tempo indeterminado.

19.9.06

Dias de Luta

Passou o 7 de Setembro. Declarei a minha independência do Brasil.
Aproximam-se as eleições e não tenho candidatos.
No Dia das Crianças já sei que não vai ter brinquedo.
Finados: estão numa situação melhor do que a nossa.
15 de Novembro? Sou anarquista...
Depois vem o Natal. Mas Papai Noel nunca me enganou.
E daí vem o Ano Novo pra tudo continuar na mesma...

O que seria dos feriados sem a possibilidade redentora da embriaguez?

18.9.06

Joker Man

A despeito de um comentário irônico que fiz outro dia, causando uma certa exacerbação, travei este diálogo com Lili Marlene, principiando por dizer-lhe que, obviamente, aquela afirmação era em tom de brincadeira. Entretanto, Lili Marlene, com todo aquele jeito Lili Marlene de ser, tenta então me implicar no crime de Ato Falho:

Lili Marlene: "É, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade..."

Ogro: "Você acha mesmo?"

Lili Marlene: "Claro! A pessoa fala brincando, mas tem uma verdade por trás do que ela disse."

Ogro: "É, pode ser. Mas é uma verdade que ela nega, porque ri daquilo."

Lili Marlene: "Como assim?"

Ogro: "Se alguém brinca com algo que em tese seria verdade é porque já a superou. Era alguma coisa que valia para esta pessoa, mas que já não vale mais. Então, ela é capaz de brincar com aquela verdade."

Lili Marlene: "É, acho que tem razão. Talvez seja uma verdade que a gente nega..."

Ogro: "Acho que mais superada do que negada. Era verdade, mas deixou de ser. E talvez deixe mesmo de ser no exato momento em que rimos dela."

Diante de tanta perspicácia, Lili Marlene desconversa resignadamente [ou resigna-se desconversadamente] mudando de assunto...

15.9.06

Mais do mesmo

Conversávamos eu e o Carcamano sobre um curta que ele tinha assistido, Glaubirinto, com diversos depoimentos sobre pessoas que conviveram com Glauber Rocha. Lá pelas tantas, ele me descreve o [anti] depoimento comovido [e comovente] de Jards Macalé. Então surgiu o microdiálogo que segue [da maneira como eu me lembro dele]:

Ogro: "Parece que existem pessoas que vivem mais do que a gente. Não no sentido de tempo cronológico, mas de quantidade de vida mesmo. Como se elas pudessem viver mais de uma vida ao mesmo tempo. Como se elas fossem pessoas multiplicadas... É como eu vejo o Glauber... Ele era capaz de ser vários ao mesmo tempo. Enquanto que pessoas como nós só conseguem ser uma pessoa por vez. A nossa mutliplicidade nos seria insuportável."

Carcamano: "Porra, Mendel, assim você acaba comigo!"

Ele sorriu, tomou o seu último gole de Almadén e então mudamos de assunto...