13.2.09

Fim de Noite

Na primeira vez que levei a gatinha ao cinema fomos assistir ao filme Paris, Eu Te Amo. Era Setembro. A noite estava agradável e após a sessão, caminhamos um pouco e tomamos um sorvete. A conversa foi agradabilíssima e nessa noite tive a certeza de que ela era a garota mais bacana que eu poderia ter encontrado no lugar onde trabalho. E essa sorte, eu não poderia deixar escapar. Como não deixei. Mas naquela noite, especificamente, não rolou nada entre nós.

Naquela época ainda não tinha comprado o meu Bandini, por isso voltamos de ônibus até onde ela morava, no Sagrada Família. Já passava das dez e, embora eu realmente quisesse, não pude me demorar muito, pois sabia que, nesse horário, os ônibus demoravam a passar. Então, nos despedimos rapidamente com um abraço na entrada do prédio onde ela morava.

Depois tive de andar alguns quarteirões até o ponto onde pegaria o meu ônibus, o 9211, lá na Av. Silviano Brandão. No caminho, mandei uma mensagem, via celular, agradecendo a gatinha pela ótima noite. Ao que ela me respondeu, pronta e delicadamente, também agradecendo.

Chegando ao ponto, enfim, por volta das dez e meia, comecei a aguardar o balaio. Assistindo, encostado ao poste, os últimos transeuntes passarem. Carros, ônibus voltando para os bairros com os trabalhadores e seus rostos cansados. Alguns casais, estudantes, chegavam e saíam do ponto. E eu lá, aguardando...

Onze horas, nada. Onze e quinze, nada. Onze e meia, nada... A essa altura, já estava sentado junto à porta cerrada de uma loja que ficava bem em frente. E lá fiquei na minha longa espera, enquanto divagava e devaneiava com as coisas da vida...

Lá pelas tantas, quase meia-noite, veio caminhando um garoto. Parecia ter uns treze, quatorza anos, no máximo. Era magro. Trajava apenas uma camisa de malha, bermuda e chinelos. Logo pensei tratar-se de um trombadinha. Mas permaneci impassível. Chegando ao ponto, veio em minha direção e perguntou: Moço, tem um real pra me dar? Ô, num tenho não. Respondi balançando a cabeça. Nem uma moedinha? Não. Repliquei.

Perguntou então se podia se sentar. Com um leve gesto com a cabeça, permiti. Ficou assim a uns três palmos de mim... Tá esperando o “ônus”? Sim. Qual? 9211... O senhor mora por aqui? Não. Mora aonde? Já com um certo incômodo, falei que não responderia a essa pergunta. Ficou então calado por um minuto e depois mudou o rumo da conversa: Moço, (arredou-se um pouco para o meu lado) o senhor é tão bonito! Eu nada disse. Ele ficou me olhando... Posso te dizer uma coisa? Calei, fitando a rua deserta. Estou com uma vontade de dar o cu hoje... Assustei-me pela primeira vez: Ah é? Mas não é comigo que você vai conseguir isso, não! Oh moço, por favor, eu nem te cobro nada. Não! Já mais grossamente, retruquei. O senhor já provou? Não, nem quero provar. Ô moço, é tão gostoso!... Escuta aqui, você não vê que não vai conseguir o quer comigo! É bom procurar outro! Ele não desistiu: E se eu desse uma chupadinha no seu pau? Cara, vai embora! Ele deve ser enorme! Não é da sua conta, garoto! Já disse pra ir embora, não vai conseguir nada comigo!...

Quem me conhece sabe que é praticamente impossível me tirar do sério, mas aquele moleque conseguiu. Já estava pensando se seria necessário “partir pra ignorância” se ele continuasse com aquela amolação. Mas ele parou. E fez um falsa cara de choro que não me comoveu. Daí fez-se um silêncio. Mas permaneci incomodado com aquela situação, com aquele menino do meu lado...

Enfim, à meia-noite e dez, quase duas horas depois de eu ter chegado ao ponto, veio vindo o meu ônibus. Levantei-me então, aliviado. Dei sinal, o menino perguntou com voz triste: Já vai? É o meu ônibus. Tchau! Tchau, respondi sem pensar. E entrei... Paguei a passagem e sentei no ônibus vazio. Com a cabeça encostada na janela, ofeguei. E fui acompanhando, pelas ruas onde o balaio passava, os estranhos seres da noite de Belo Horizonte...

Nenhum comentário: