16.12.08

Homo Perdidus

Dia desses eu estava caminhando ali pelos lados do Sion e Anchieta para chegar à Rua Joaquim Linhares. Esta rua faz esquina com a Av. Bandeirantes e eu fui me orientando por esse marco. Acontece que, fazendo isso, eu dei uma tremenda volta, e cheguei ao meu destino "botando os bofes pra fora", como diria o pessoal lá da minha terra.

Acreditei que, descendo do ônibus, ali na N. S. do Carmo com Rua Montevidéu, o melhor a fazer seria seguir esta última, subir a Av. Uruguai até bem pertinho da Bandeirantes e ir margeando esta avenida até chegar na Joaquim Linhares. Só que esse trajeto fez com que eu quase dobrasse a distância que tinha a percorrer. Eu não precisava subir a Uruguai, mas sim atravessá-la. Se fizesse assim, cairia direto numa outra rua que daria acesso muito mais rápido e direto ao meu destino.

O ponto é que é impossível para mim, como para qualquer outro ser humano normal, saber de cór as ruas e trajetos de uma cidade grande como Belo Horizonte. A gente se orienta por alguns poucos pontos de referência, que ajudam a nos localizar e deslocar. Acontece que, mesmo assim, nos enganamos com uma facilidade absurda quanto à exata localização destas referências. Particularmente para nós, machos, esse tipo de falha causa profundo desgosto...

Já é da nossa tradição (e quando digo isso, me refiro à Idade da Pedra) que consigamos ter uma boa noção de localização, porque era o homem que sempre saía para arranjar comida para si e para a sua prole. Então, ele simplesmente tinha que saber isso para poder voltar pra casa (ou pra caverna, como queiram) e alimentar a sua fêmea e os seus filhos. Isso de mulher poder ir e vir de lá pra cá é coisa recente, talvez de uns 100 anos pra cá. Ou seja, pelos milhares de anos acumulados de “saída para a caça”, os machos têm, instintivamente, uma maior desenvoltura para deslocamentos.

Porém, me parece que a vida nas cidades está fazendo com que toda esta experiência embutida nos nossos cromossomos Y esteja regredindo. O emaranhado urbano se tornou tão complexo, com tantas regras e orientações (leia-se sinais e placas de trânsito), que a capacidade natural do homem parece estar se perdendo, pois ele “não precisa” mais desta capacidade para se orientar. "É só seguir as placas"...

Às mulheres (perdidas ou não) sempre lhes foi concedido o dom de saber usar a boca muito melhor do que os homens. Então, o que era desvantagem, hoje em dia, já está quase virando handicap feminino. Achincalhando a moral dos machos por ter chegado a um determinado local mais rapidamente, usando o recurso eficaz do “pára e pergunta”... Mas acho que isso seria nos submetermos à uma estratégia que não é a nossa. Ou seja, ao abandono de uma habilidade milenar, uma das poucas que temos mais desenvolvidas do que as de nossas incríveis parceiras. Então, sem chance!...

Outra coisa: para mim, essas paradas de GPS, Navegador, satélite e o caralho de asas turbinadas não funcionam. Homem que é homem não precisa desses “brinquedinhos” para sair de casa. Apesar de djovem, para certas coisas, eu sou um cara bem antiquado... É possível que sujeitos como eu estejam caminhando para a extinção. Em breve, viveremos num Mundo onde precisaremos, vou frisar, “precisaremos” de aparelhos eletrônicos e dos veneráveis recursos e táticas femininas para chegarmos a algum lugar. Talvez isso seja reflexo de uma nova era. Ou, em outras palavras: “Esse Mundo tá acabano mêss’!...”

2 comentários:

Rossi disse...

"Quem tem boca, vai à Roma"
- domínio popular -

Faltou à galera geral, ter trabalhado na 'Vox'...vai andar assim lá na casa do C...mas vc desenvolve seu senso de orientação, e o gosto por andar e 'mapear' todo o seu caminho trilhado!

Lekso disse...

Buckle your seat belt, Dorothy, cause Kansas is going bye-bye... — É o apocalipse!