17.6.06

Dos Crentes em Além-Mundos

" [...] " [...] Da mesma maneira projetei eu também a minha ilusão mais para além da vida dos homens à semelhança de todos os crentes em além-mundos. Além dos homens, realmente? Ai! meus irmãos! Este deus que criei era obra humana e humano delírio, igual a todos os deuses. Era homem, tão-somente um fragmento de homem e de mim. Esse fantasma saía das minhas próprias cinzas e da minha própria chama, e na verdade nunca veio de outro mundo.
Que ocorreu, meus irmãos? Eu, que sofria, dominei-me; levei a minha própria cinza para a montanha; inventei para mim uma chama mais clara. E vede! O fantasma ausentou-se!
Agora eu estou curado, seria para mim um sofrimento e um tormento crer em semelhantes fantasmas. Assim falo eu aos que crêem em além-mundos. [...]

[...] Houve sempre muitos enfermos entre os que sonham e suspiram por Deus; odeiam furiosamente o que procura o conhecimento e a mais nova das virtudes, que se chama lealdade.
Olham sempre para trás, para tempos obscuros; nesse tempo, certamente, a ilusão e a fé eram outra coisa. O delírio da razão era algo divino, e a dúvida, pecado.
Conheço demasiado esses semelhantes a Deus; querem que se acredite neles e que a dúvida seja pecado. Também sei de sobra no que eles crêem mais.
Não é, certamente, em além-mundos e em gotas de sangue redentor; eles também crêem principalmente no corpo, e ao seu próprio olham como a coisa em si.
O seu corpo, porém, é coisa enfermiça e de boa vontade se livrarão dele. Por isso escutam os pregadores da morte e eles mesmos pregam os além-mundos.
Preferi, meus irmãos, a voz do corpo curado; é uma voz mais leal e mais pura. O corpo são, o corpo cheio de ângulos, retos, fala com mais lealdade, e mais pureza; fala do sentido da terra."

Assim falou Zaratustra."

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprendi muito