10.7.09

Sem Dono

Frequentemente, a gente usa umas palavras meio inadequadas para expressar as nossas idéias. O que gera, com certeza, muitos mal-entendidos e “estranhamentos” entre as pessoas de nosso convívio.

É bom ter amigos que te compreendem, mesmo quando não encontramos a palavra ideal, a frase ideal para dizermos o que andamos pensando. Muitas vezes, esses amigos até “traduzem”, nas palavras corretas, o que estávamos tentando dizer, mas não conseguíamos.

Outro dia estava com o Mocha no Belvedere. Ficamos alguns minutos de lá do alto, observando as luzes de Belo Horizonte. E eu disse a ele que, para mim, esta cidade tinha alguns donos: Miltão, Roberto Drummond, Lô, Fernando Sabino... E que, um dia, eu também seria um deles. O Mocha sorriu, e me deu apoio. E eu senti que ele não concordava muito bem com o que eu tinha dito, mas entendeu qual foi a minha intenção naquela, aparentemente, pretensiosa fala.

Depois fiquei refletindo, ao som do Lou Reed no carro, que eu tinha me equivocado um pouco. Não existe nenhum dono de BH. A cidade é de todos... E esse é talvez o grande barato das metrópoles. Elas são grandes demais, e diversas demais, para que alguém se aposse delas.

Na verdade, talvez se dê até o contrário. Eu, por exemplo, acho que embora o Milton more há muitos anos no Rio de Janeiro, ele nunca vai deixar de ser daqui. O Daniel Galera sempre será portalegrense. E Cortázar sempre foi portenho, apesar de nunca mais ter retornado a Buenos Aires depois do exílio. O lugar se entranha na gente. A força da terra é maior do que qualquer Gravidade. A palavra fenotipia é a que me ocorre nessas horas...

Então, temos que me expressei mal para o Mocha. Aqueles caras que citei no início do texto seriam antes intérpretes do que donos da cidade. De alguma forma, eles ajudaram a compreendermos melhor este lugar. Deram a nós um novo olhar sobre BH. E, às vezes até, formaram uma parte do nosso inconsciente coletivo. Eu, por exemplo, sempre sinto algo diferente quando passo pela Rua Ramalhete. Sem dúvida que isso não ocorreria, não fosse a maravilhosa canção do Tavito...

Não quero ser dono de nada. A minha vontade é de simplesmente deixar registrado o meu olhar sobre as coisas. E sei que tenho sensibilidade suficiente para alcançar o coração das pessoas se me propuser a isso. Sinto que tenho que levar Belo Horizonte, levar Minas Gerais para o mundo. De um jeito novo. De um jeito só meu de expressar, mas que todo mundo pudesse compreender e sentir.

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