2.2.09

Lua Nova

Desde a época em que comecei a beber, lá em Montes Claros, sempre me interessei pelos botecos, mais que pelos bares da moda. Com sua absoluta informalidade e presença de tipos dos mais variados, eram lugares onde me sentia (e ainda me sinto) muito mais à vontade. Quem vai a boteco não vai para paquerar. Ou esta não é a prioridade, pelo menos. Geralmente, o indivíduo sai do trampo e vai direto para lá. Suado, do jeito que estiver... O objetivo é simplesmente relaxar das chicotadas que a vida lhe dá durante o dia. Tomar umas cervejas e jogar conversa fora.

Mas apesar de achar os botecos lugares super-agradáveis, só fui me tornar um bom frequentador mesmo depois que me mudei para Belo Horizonte. E, cá entre nós, cidade mais apropriada para esse hábito não há... Desde os tempos do Clube da Esquina, a fama dos bares e botecos daqui já correu o Brasil e o Mundo. E, sendo uma cidade ligada tanto à tradição quanto à vanguarda, BH tem em sua vida boêmia essa marca, essa capacidade de convivência pacífica e enriquecedora, um vai-e-vem de gentes das mais díspares tendências e gostos, que se reúnem em volta de uma mesinha para celebrar essa diversidade, esse jeito mineiro de declarar o seu compromisso com a Liberdade, e de demarcar campos onde a Democracia pode ser realmente plena.

Sem dúvida algum de que o boteco é este espaço. Lá a voz do Advogado, vale tanto quanto a do barbeiro. A do fazendeiro tanto quanto a do estudante. E a do jovem tanto quanto a do velho. A heterogeneidade dos clientes é a sua graça, e a coexistência de pessoas que, em outro ambiente, mal trocariam um “Bom Dia” é o seu maior charme e chamariz.

O Lua Nova é um desses botecos. E foi o primeiro que eu, efetivamente, frequentei na vida. Duas, três, ou até quatro vezes por semana, lá estava eu “batendo ponto”. É um estabelecimento que tem bastante história, e já virou até livro e documentário. Atualmente fica no 2° Piso do Edifício Maletta e, dizem, já foi frequentado por Milton Nascimento e a sua turma. Mas isso foi em outra época, quando o bar ainda funcionava no piso de baixo. Há cerca de 15 anos foi adquirido pelo atual proprietário, o Juventino. Meus amigos sabem melhor da história, mas me parece que o Lua Nova, e a própria galeria do Maletta, passaram por períodos meio tenebrosos, com presença constante de baixos-traficantes, prostitutas e mal-encarados em geral. As batidas policiais eram rotina e, nas “boas famílias” era recomendado que se passasse longe daquele lugar...

Mas o tempo passa. E as coisas mudam. Hoje, o Juventino dá graças a Deus, pois ele diz ter conseguido “expulsar os vagabundos” do seu bar. Mesmo com aquele tamanho todo que ele tem, aquele mau-humor e o indefectível bigodão de mexicano, deve ter sido dureza! Ainda se vê, vez por outra, uns tipo meio estranhos circulando. Mas em 99% dos casos, eles são só isso mesmo: “uns tipo meio estranhos”. Não fazem mal a ninguém. E, de certa forma, até dão um clima underground bacana ao Lua Nova. Quem frequenta sabe que são quase sempre as mesmas figuras. E, à medida que o Ju (o Juventino) vai “pegando confiança” com você, ele começa a lhe contar as histórias dos frequentadores, entremeados por rabugices e muitos, mas muitos comentários sobre futebol.

O “Cardápio” do Lua Nova não é lá muito extenso, e nem tão saboroso. De modo que o pessoal se reúne mesmo é para beber. Dica: jamais, jamais pergunte ao Ju se tem cerveja gelada, pois é bem capaz de receber um “coice” daqueles, mesmo que a breja nem sempre esteja, efetivamente, na temperatura ideal... A decoração é inexistente (como em todo bom boteco) e o banheiro, bem, é um banheiro de boteco. Vocês sabem como é...

Mas o Bar do Ju, como é mais conhecido pela galera de hoje em dia, tem um “quê” de atraente. E quando se dá por si, é sempre o primeiro lugar que vem a mente quando se pensa em “tomar uma”. E assim, fui tomando contato (e me tornando amigo) de pessoas super-legais, jovens que são capazes de estabelecer um papo bacana, sem ser vazio, pedante ou entediante. Pessoas que compartilham suas experiências sem preconceitos e, incrivelmente, escutam o que você tem a dizer.

Acontece que, infelizmente, não estou podendo mais exercitar a minha boemia no Lua Nova (nem em lugar nenhum), já que mudei o meu horário de trabalho para a noite. E, como dizia o Marquinho lá da Gerel, "profissional" não frequenta bar em fim de semana. E então, toda Sexta, quando passo em frente do Maletta, voltando para casa na Van, às 2 da manhã, fico me lamentando: ê, saudade de tomar uma cerveja no Bar do Ju com os amigos!...

Mas penso que a vida é assim mesmo. Chegou a hora de curtir outras paradas. Estou até gostando do trampo noturno. E sei que muitas outras viradas estão reservadas para mim no futuro. Ainda tenho muito o que experimentar... Bom é guardar estes momentos felizes na memória. Outros virão. Em botecos ou não, o lance é esse: curtir o que de melhor as vivências podem lhe proporcionar e agradecer a Jah por essas preciosas oportunidades.

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