3.2.09

Flores

Uma coisa que tenho reparado ultimamente é que nos edifícios, nas casas e nos apartamentos, as plantas e flores de plástico têm subtituído cada vez mais as plantas e flores de verdade. “Uma plantinha para enfeitar, mas que não me dê trabalho”. É o que querem as pessoas hoje.

Sem tempo para cuidarem de suas casas, para conversarem com quem está ali do lado: a mãe, o irmão, o vizinho. Contudo, este mesmo tempo é gasto em bate-papos virtuais com “amigos” que estão a centenas de quilômetros de distância...

Sem tempo para preparar um bom jantar, já que é preciso “baixar” uns MP3 para o iPod e aproveitar para ver as últimas fofocas sobre a Paris Hilton naquele canal de TV a cabo com programação 24 horas sobre celebridades...

Nessa “falta de tempo” crônica não há espaço possível para cuidar de nada, nem de ninguém. Se as pessoas têm filhos, gatos ou cães, “terceirizam” a tarefa dos cuidados a mães, avós, babás. Ou deixam filhos em creches, e animais sozinhos em casa. Trabalham para pagar a escolinha do filho, ou o banho semanal dos bichos no pet shop.

Das plantas então, nem se fala! “Que trabalheira” que é molhar as plantinhas de vez em quando. Reparar se precisam de luz, de adubo, de um pouco de ar... Não sabem o signficado da palavra poda, não tiveram a satisfação de perceber uma minúscula folha brotando do caule, ou um botão que lentamente se abre. O único perfume que conhecem e exaltam é o da podridão em frascos da aristocracia arrogante e perdulária. Não há o cuidar de algo ou de alguém. Só o culto à matéria, e o pior, à imagem da matéria... Não há troca, somente idolatria. Não há calor humano, apenas euforias ilusórias e descartáveis...

É esse o tipo de pessoa que contenta-se com um mero pedaço de plástico pintado e moldado. Para simular que naquele canto da sala, naquela casa, há alguma coisa que poderia, de repente, ser chamado de Vida. E que, na falta dela, serve para “complementar a decoração” no aparadorzinho da Tok&Stok, adquirido num fim de semana promocional, em seis vezes sem juros no cartão de crédito.

Um comentário:

Moisés disse...

Texto forte, black. Gostei muito dos dois últimos parágrafos. De arrepiar!