Uma manhã dourada entra pela janela. Tomo o meu café, ouvindo um velha gaita estradeira. Lembro-me de um amigo distante. Um bem-te-vi pousa nos galhos da árvore de fronte. E com voz suave, me secreta:
Eu sou a Morte. Se lhe pareço um pássaro, é que o seu espírito está leve. Assim percebes que a plenitude da Vida reserva o simples e o insólito. Não te preocupes, pois a chama do Amor que te arde no peito, fará com que ainda alces grandes vôos. Muito além dos meus...
Pulou para um outro galho mais acima. Fitou-me novamente e bateu asas... Até qualquer dia... Hallelujah! Foi a última coisa que me disse, já sumindo, rumo ao horizonte. E eu, sereno, respondi, erguendo a mão e sorrindo: Hallelujah!
28.2.09
27.2.09
Eu, andarilho
Sigo subindo pelas montanhas. O caminho é acidentado e íngreme. Por muito tempo me perdi olhando para o chão, para que não tropeçasse pelas pedras no caminho. Mas agora aprendi a olhar para o alto e a contemplar toda a paisagem à minha frente.
Ainda aprendo com o Sol, com as folhas, com as águas e com os pássaros. Eles serão os meus companheiros de viagem.
Há, por certo, muito caminho a percorrer. Porém, cada passo será lembrado, e cada alvorecer será compartilhado. Com a palavra em solene descanso e o coração folgado em êxtase.
Os ventos soprarão em meus ouvidos cânticos de glória. Os meus passos serão firmes. E estarei a assobiar velhas canções, sorrindo para as rochas e cada dia mais próximo da Luz.
Ainda aprendo com o Sol, com as folhas, com as águas e com os pássaros. Eles serão os meus companheiros de viagem.
Há, por certo, muito caminho a percorrer. Porém, cada passo será lembrado, e cada alvorecer será compartilhado. Com a palavra em solene descanso e o coração folgado em êxtase.
Os ventos soprarão em meus ouvidos cânticos de glória. Os meus passos serão firmes. E estarei a assobiar velhas canções, sorrindo para as rochas e cada dia mais próximo da Luz.
13.2.09
Fim de Noite
Na primeira vez que levei a gatinha ao cinema fomos assistir ao filme Paris, Eu Te Amo. Era Setembro. A noite estava agradável e após a sessão, caminhamos um pouco e tomamos um sorvete. A conversa foi agradabilíssima e nessa noite tive a certeza de que ela era a garota mais bacana que eu poderia ter encontrado no lugar onde trabalho. E essa sorte, eu não poderia deixar escapar. Como não deixei. Mas naquela noite, especificamente, não rolou nada entre nós.
Naquela época ainda não tinha comprado o meu Bandini, por isso voltamos de ônibus até onde ela morava, no Sagrada Família. Já passava das dez e, embora eu realmente quisesse, não pude me demorar muito, pois sabia que, nesse horário, os ônibus demoravam a passar. Então, nos despedimos rapidamente com um abraço na entrada do prédio onde ela morava.
Depois tive de andar alguns quarteirões até o ponto onde pegaria o meu ônibus, o 9211, lá na Av. Silviano Brandão. No caminho, mandei uma mensagem, via celular, agradecendo a gatinha pela ótima noite. Ao que ela me respondeu, pronta e delicadamente, também agradecendo.
Chegando ao ponto, enfim, por volta das dez e meia, comecei a aguardar o balaio. Assistindo, encostado ao poste, os últimos transeuntes passarem. Carros, ônibus voltando para os bairros com os trabalhadores e seus rostos cansados. Alguns casais, estudantes, chegavam e saíam do ponto. E eu lá, aguardando...
Onze horas, nada. Onze e quinze, nada. Onze e meia, nada... A essa altura, já estava sentado junto à porta cerrada de uma loja que ficava bem em frente. E lá fiquei na minha longa espera, enquanto divagava e devaneiava com as coisas da vida...
Lá pelas tantas, quase meia-noite, veio caminhando um garoto. Parecia ter uns treze, quatorza anos, no máximo. Era magro. Trajava apenas uma camisa de malha, bermuda e chinelos. Logo pensei tratar-se de um trombadinha. Mas permaneci impassível. Chegando ao ponto, veio em minha direção e perguntou: Moço, tem um real pra me dar? Ô, num tenho não. Respondi balançando a cabeça. Nem uma moedinha? Não. Repliquei.
Perguntou então se podia se sentar. Com um leve gesto com a cabeça, permiti. Ficou assim a uns três palmos de mim... Tá esperando o “ônus”? Sim. Qual? 9211... O senhor mora por aqui? Não. Mora aonde? Já com um certo incômodo, falei que não responderia a essa pergunta. Ficou então calado por um minuto e depois mudou o rumo da conversa: Moço, (arredou-se um pouco para o meu lado) o senhor é tão bonito! Eu nada disse. Ele ficou me olhando... Posso te dizer uma coisa? Calei, fitando a rua deserta. Estou com uma vontade de dar o cu hoje... Assustei-me pela primeira vez: Ah é? Mas não é comigo que você vai conseguir isso, não! Oh moço, por favor, eu nem te cobro nada. Não! Já mais grossamente, retruquei. O senhor já provou? Não, nem quero provar. Ô moço, é tão gostoso!... Escuta aqui, você não vê que não vai conseguir o quer comigo! É bom procurar outro! Ele não desistiu: E se eu desse uma chupadinha no seu pau? Cara, vai embora! Ele deve ser enorme! Não é da sua conta, garoto! Já disse pra ir embora, não vai conseguir nada comigo!...
Quem me conhece sabe que é praticamente impossível me tirar do sério, mas aquele moleque conseguiu. Já estava pensando se seria necessário “partir pra ignorância” se ele continuasse com aquela amolação. Mas ele parou. E fez um falsa cara de choro que não me comoveu. Daí fez-se um silêncio. Mas permaneci incomodado com aquela situação, com aquele menino do meu lado...
Enfim, à meia-noite e dez, quase duas horas depois de eu ter chegado ao ponto, veio vindo o meu ônibus. Levantei-me então, aliviado. Dei sinal, o menino perguntou com voz triste: Já vai? É o meu ônibus. Tchau! Tchau, respondi sem pensar. E entrei... Paguei a passagem e sentei no ônibus vazio. Com a cabeça encostada na janela, ofeguei. E fui acompanhando, pelas ruas onde o balaio passava, os estranhos seres da noite de Belo Horizonte...
Naquela época ainda não tinha comprado o meu Bandini, por isso voltamos de ônibus até onde ela morava, no Sagrada Família. Já passava das dez e, embora eu realmente quisesse, não pude me demorar muito, pois sabia que, nesse horário, os ônibus demoravam a passar. Então, nos despedimos rapidamente com um abraço na entrada do prédio onde ela morava.
Depois tive de andar alguns quarteirões até o ponto onde pegaria o meu ônibus, o 9211, lá na Av. Silviano Brandão. No caminho, mandei uma mensagem, via celular, agradecendo a gatinha pela ótima noite. Ao que ela me respondeu, pronta e delicadamente, também agradecendo.
Chegando ao ponto, enfim, por volta das dez e meia, comecei a aguardar o balaio. Assistindo, encostado ao poste, os últimos transeuntes passarem. Carros, ônibus voltando para os bairros com os trabalhadores e seus rostos cansados. Alguns casais, estudantes, chegavam e saíam do ponto. E eu lá, aguardando...
Onze horas, nada. Onze e quinze, nada. Onze e meia, nada... A essa altura, já estava sentado junto à porta cerrada de uma loja que ficava bem em frente. E lá fiquei na minha longa espera, enquanto divagava e devaneiava com as coisas da vida...
Lá pelas tantas, quase meia-noite, veio caminhando um garoto. Parecia ter uns treze, quatorza anos, no máximo. Era magro. Trajava apenas uma camisa de malha, bermuda e chinelos. Logo pensei tratar-se de um trombadinha. Mas permaneci impassível. Chegando ao ponto, veio em minha direção e perguntou: Moço, tem um real pra me dar? Ô, num tenho não. Respondi balançando a cabeça. Nem uma moedinha? Não. Repliquei.
Perguntou então se podia se sentar. Com um leve gesto com a cabeça, permiti. Ficou assim a uns três palmos de mim... Tá esperando o “ônus”? Sim. Qual? 9211... O senhor mora por aqui? Não. Mora aonde? Já com um certo incômodo, falei que não responderia a essa pergunta. Ficou então calado por um minuto e depois mudou o rumo da conversa: Moço, (arredou-se um pouco para o meu lado) o senhor é tão bonito! Eu nada disse. Ele ficou me olhando... Posso te dizer uma coisa? Calei, fitando a rua deserta. Estou com uma vontade de dar o cu hoje... Assustei-me pela primeira vez: Ah é? Mas não é comigo que você vai conseguir isso, não! Oh moço, por favor, eu nem te cobro nada. Não! Já mais grossamente, retruquei. O senhor já provou? Não, nem quero provar. Ô moço, é tão gostoso!... Escuta aqui, você não vê que não vai conseguir o quer comigo! É bom procurar outro! Ele não desistiu: E se eu desse uma chupadinha no seu pau? Cara, vai embora! Ele deve ser enorme! Não é da sua conta, garoto! Já disse pra ir embora, não vai conseguir nada comigo!...
Quem me conhece sabe que é praticamente impossível me tirar do sério, mas aquele moleque conseguiu. Já estava pensando se seria necessário “partir pra ignorância” se ele continuasse com aquela amolação. Mas ele parou. E fez um falsa cara de choro que não me comoveu. Daí fez-se um silêncio. Mas permaneci incomodado com aquela situação, com aquele menino do meu lado...
Enfim, à meia-noite e dez, quase duas horas depois de eu ter chegado ao ponto, veio vindo o meu ônibus. Levantei-me então, aliviado. Dei sinal, o menino perguntou com voz triste: Já vai? É o meu ônibus. Tchau! Tchau, respondi sem pensar. E entrei... Paguei a passagem e sentei no ônibus vazio. Com a cabeça encostada na janela, ofeguei. E fui acompanhando, pelas ruas onde o balaio passava, os estranhos seres da noite de Belo Horizonte...
12.2.09
5.2.09
O Doutor e A Saideira
Houve uma noite no Lua Nova em que o Djovem Red encontrou um velho amigo seu que eu, imperdoavelmente, esqueci o nome. Abraços e apresentações e histórias e conversa jogada fora e muita cerveja: tudo como manda o figurino. Mas acontece que o Lua Nova fecha cedo, então, como não poderia deixar de ser, a noite teve de ser extendida em outro local.
Fomos pois, eu, o Doutor, o Djovem Red e o nosso amigo para o Paracone, ali na Av. Brasil. E tome cerveja! Depois forramos levemente o estômago. E mais cerveja e mais bate-papo. O Doutor empolgou-se com o nosso amigo, pois ele demonstrava ser um grande conhecedor de Chico. E ficamos, assim, a relembrar várias de suas canções madrugada adentro. E, como sempre acontece quando que se fala nele, o Doutor vem com aquela hipótese de que toda mulher teria obrigação moral de dar para o Chico, se ele assim o desejasse. E criou-se, pra variar, uma ligeira polêmica. Mas nada que alterasse o bom espírito de camaradagem daquela noite agradabilíisima.
Lá pelas tantas, partiu o nosso amigo, alegando que não poderia chegar muito tarde em casa, pois não tinha avisado à patroa (Detalhe é que eram mais de quatro da manhã a essa altura). Ficamos, por fim, a trinca ferranca: eu, Ed e Red.
Já devidamente etilizados, passamos então a agraciar os ouvidos dos presentes com um saboroso desfile de pérolas do nosso rico cancioneiro popular, pois a noite pedia por isso: Ronda, A Volta do Boêmio, Negue, Fica Comigo Esta Noite, Saudosa Maloca, Iracema, , As Mariposas, Conversa de Botequim, Palpite Infeliz, Último Desejo, As Rosas Não Falam, O Mundo é um Moinho, Preciso me Encontrar, Chega de Saudade, Eu Sei Que Vou Te Amar (com o Doutor declamando o Soneto da Fidelidade à maneira de Vínicius), Samba da Bênção, Canto de Ossanha, Berimbau, Carta ao Tom, Samba do Avião, e outras tantas que cantamos, não necessariamente nesta ordem.
Quando passava das cinco e meia da manhã, nos chega o garçom e avisa que não seriam mais servidas cervejas, nem quaisquer outras bebidas alcóolicas. “Como assim, não vão servir mais?”, retrucamos. “E a saideira?”, pedimos sorrindo. “Não tem saideira.” Respondeu secamente o garçom. Tomados de indignação, ainda tentamos por mais algumaz vezes argumentar que é inadmissível que não se sirva a saideira num estabelecimento que, conforme a placa informava, era 24 horas! Mas não houve recurso. A nossa última cerveja foi terminantemente recusada.
Passados uns vinte minutos, voltou outro garçom para recolher os copos. Primeiro o meu, depois o do Djovem Red. Ao tocar no copo do Doutor, este interrompeu bruscamente, segurando o braço do infeliz garçom com energia, e esbravejou: “Ninguém tira este copo daqui, enquanto não me trouxerem a saideira!”. Todos em redor se viraram para acompanhar e o pobre empregado se assustou de tal maneira que ficou por segundos sem ação e depois largou o copo sobre a mesa.
Fomos informados de que só seria novamente ofertadas bebidas depois das 9 da manhã (!!!). O Djovem Red, por fim, desistiu, dizendo que “estava colando o platinado” e foi-se para a sua casa, com o dia já quase clareando. Eu, por minha conta, não via tanta necessidade de uma saideira. Mas, para o Doutor, aquilo era ponto de honra. Fiquei mais para fazer companhia a ele e para manter a fama recém-adquirida de ser o mais resistente da turma.
Vimos então o dia despontando, os funcionários recolhendo as mesas e cadeiras para fazer a limpeza, as primeiras pessoas se encaminhando para o trabalho, os pássaros revoando, os primeiros circulares começando a rodar, enquanto continuávamos devassando o arquivo da MPB, já sem o mesmo ânimo de três horas atrás.
Às 7 horas e 20 minutos foi a minha vez de pedir licença. Com vontade resoluta, o meu amigo não arredou pé e me disse alguns impropérios quando me levantei para ir embora, mas que logo relevei a caminho de casa.
Permaneceu, desta maneira, o Doutor Edmundo aguardando pacientemente (ou não) a sua saideira, pitando o seu Carlton verde. Segundo me relatou posteriormente, foi-lhe servida uma última cerveja às 9 horas em ponto. Ao que, depois de degustá-la lenta e saborosamente, pagou a conta, agradeceu e partiu satisfeito para se recolher à sua residência naquela ensolarada manhã de Sábado
Fomos pois, eu, o Doutor, o Djovem Red e o nosso amigo para o Paracone, ali na Av. Brasil. E tome cerveja! Depois forramos levemente o estômago. E mais cerveja e mais bate-papo. O Doutor empolgou-se com o nosso amigo, pois ele demonstrava ser um grande conhecedor de Chico. E ficamos, assim, a relembrar várias de suas canções madrugada adentro. E, como sempre acontece quando que se fala nele, o Doutor vem com aquela hipótese de que toda mulher teria obrigação moral de dar para o Chico, se ele assim o desejasse. E criou-se, pra variar, uma ligeira polêmica. Mas nada que alterasse o bom espírito de camaradagem daquela noite agradabilíisima.
Lá pelas tantas, partiu o nosso amigo, alegando que não poderia chegar muito tarde em casa, pois não tinha avisado à patroa (Detalhe é que eram mais de quatro da manhã a essa altura). Ficamos, por fim, a trinca ferranca: eu, Ed e Red.
Já devidamente etilizados, passamos então a agraciar os ouvidos dos presentes com um saboroso desfile de pérolas do nosso rico cancioneiro popular, pois a noite pedia por isso: Ronda, A Volta do Boêmio, Negue, Fica Comigo Esta Noite, Saudosa Maloca, Iracema, , As Mariposas, Conversa de Botequim, Palpite Infeliz, Último Desejo, As Rosas Não Falam, O Mundo é um Moinho, Preciso me Encontrar, Chega de Saudade, Eu Sei Que Vou Te Amar (com o Doutor declamando o Soneto da Fidelidade à maneira de Vínicius), Samba da Bênção, Canto de Ossanha, Berimbau, Carta ao Tom, Samba do Avião, e outras tantas que cantamos, não necessariamente nesta ordem.
Quando passava das cinco e meia da manhã, nos chega o garçom e avisa que não seriam mais servidas cervejas, nem quaisquer outras bebidas alcóolicas. “Como assim, não vão servir mais?”, retrucamos. “E a saideira?”, pedimos sorrindo. “Não tem saideira.” Respondeu secamente o garçom. Tomados de indignação, ainda tentamos por mais algumaz vezes argumentar que é inadmissível que não se sirva a saideira num estabelecimento que, conforme a placa informava, era 24 horas! Mas não houve recurso. A nossa última cerveja foi terminantemente recusada.
Passados uns vinte minutos, voltou outro garçom para recolher os copos. Primeiro o meu, depois o do Djovem Red. Ao tocar no copo do Doutor, este interrompeu bruscamente, segurando o braço do infeliz garçom com energia, e esbravejou: “Ninguém tira este copo daqui, enquanto não me trouxerem a saideira!”. Todos em redor se viraram para acompanhar e o pobre empregado se assustou de tal maneira que ficou por segundos sem ação e depois largou o copo sobre a mesa.
Fomos informados de que só seria novamente ofertadas bebidas depois das 9 da manhã (!!!). O Djovem Red, por fim, desistiu, dizendo que “estava colando o platinado” e foi-se para a sua casa, com o dia já quase clareando. Eu, por minha conta, não via tanta necessidade de uma saideira. Mas, para o Doutor, aquilo era ponto de honra. Fiquei mais para fazer companhia a ele e para manter a fama recém-adquirida de ser o mais resistente da turma.
Vimos então o dia despontando, os funcionários recolhendo as mesas e cadeiras para fazer a limpeza, as primeiras pessoas se encaminhando para o trabalho, os pássaros revoando, os primeiros circulares começando a rodar, enquanto continuávamos devassando o arquivo da MPB, já sem o mesmo ânimo de três horas atrás.
Às 7 horas e 20 minutos foi a minha vez de pedir licença. Com vontade resoluta, o meu amigo não arredou pé e me disse alguns impropérios quando me levantei para ir embora, mas que logo relevei a caminho de casa.
Permaneceu, desta maneira, o Doutor Edmundo aguardando pacientemente (ou não) a sua saideira, pitando o seu Carlton verde. Segundo me relatou posteriormente, foi-lhe servida uma última cerveja às 9 horas em ponto. Ao que, depois de degustá-la lenta e saborosamente, pagou a conta, agradeceu e partiu satisfeito para se recolher à sua residência naquela ensolarada manhã de Sábado
3.2.09
Flores
Uma coisa que tenho reparado ultimamente é que nos edifícios, nas casas e nos apartamentos, as plantas e flores de plástico têm subtituído cada vez mais as plantas e flores de verdade. “Uma plantinha para enfeitar, mas que não me dê trabalho”. É o que querem as pessoas hoje.
Sem tempo para cuidarem de suas casas, para conversarem com quem está ali do lado: a mãe, o irmão, o vizinho. Contudo, este mesmo tempo é gasto em bate-papos virtuais com “amigos” que estão a centenas de quilômetros de distância...
Sem tempo para preparar um bom jantar, já que é preciso “baixar” uns MP3 para o iPod e aproveitar para ver as últimas fofocas sobre a Paris Hilton naquele canal de TV a cabo com programação 24 horas sobre celebridades...
Nessa “falta de tempo” crônica não há espaço possível para cuidar de nada, nem de ninguém. Se as pessoas têm filhos, gatos ou cães, “terceirizam” a tarefa dos cuidados a mães, avós, babás. Ou deixam filhos em creches, e animais sozinhos em casa. Trabalham para pagar a escolinha do filho, ou o banho semanal dos bichos no pet shop.
Das plantas então, nem se fala! “Que trabalheira” que é molhar as plantinhas de vez em quando. Reparar se precisam de luz, de adubo, de um pouco de ar... Não sabem o signficado da palavra poda, não tiveram a satisfação de perceber uma minúscula folha brotando do caule, ou um botão que lentamente se abre. O único perfume que conhecem e exaltam é o da podridão em frascos da aristocracia arrogante e perdulária. Não há o cuidar de algo ou de alguém. Só o culto à matéria, e o pior, à imagem da matéria... Não há troca, somente idolatria. Não há calor humano, apenas euforias ilusórias e descartáveis...
É esse o tipo de pessoa que contenta-se com um mero pedaço de plástico pintado e moldado. Para simular que naquele canto da sala, naquela casa, há alguma coisa que poderia, de repente, ser chamado de Vida. E que, na falta dela, serve para “complementar a decoração” no aparadorzinho da Tok&Stok, adquirido num fim de semana promocional, em seis vezes sem juros no cartão de crédito.
Sem tempo para cuidarem de suas casas, para conversarem com quem está ali do lado: a mãe, o irmão, o vizinho. Contudo, este mesmo tempo é gasto em bate-papos virtuais com “amigos” que estão a centenas de quilômetros de distância...
Sem tempo para preparar um bom jantar, já que é preciso “baixar” uns MP3 para o iPod e aproveitar para ver as últimas fofocas sobre a Paris Hilton naquele canal de TV a cabo com programação 24 horas sobre celebridades...
Nessa “falta de tempo” crônica não há espaço possível para cuidar de nada, nem de ninguém. Se as pessoas têm filhos, gatos ou cães, “terceirizam” a tarefa dos cuidados a mães, avós, babás. Ou deixam filhos em creches, e animais sozinhos em casa. Trabalham para pagar a escolinha do filho, ou o banho semanal dos bichos no pet shop.
Das plantas então, nem se fala! “Que trabalheira” que é molhar as plantinhas de vez em quando. Reparar se precisam de luz, de adubo, de um pouco de ar... Não sabem o signficado da palavra poda, não tiveram a satisfação de perceber uma minúscula folha brotando do caule, ou um botão que lentamente se abre. O único perfume que conhecem e exaltam é o da podridão em frascos da aristocracia arrogante e perdulária. Não há o cuidar de algo ou de alguém. Só o culto à matéria, e o pior, à imagem da matéria... Não há troca, somente idolatria. Não há calor humano, apenas euforias ilusórias e descartáveis...
É esse o tipo de pessoa que contenta-se com um mero pedaço de plástico pintado e moldado. Para simular que naquele canto da sala, naquela casa, há alguma coisa que poderia, de repente, ser chamado de Vida. E que, na falta dela, serve para “complementar a decoração” no aparadorzinho da Tok&Stok, adquirido num fim de semana promocional, em seis vezes sem juros no cartão de crédito.
2.2.09
Lua Nova
Desde a época em que comecei a beber, lá em Montes Claros, sempre me interessei pelos botecos, mais que pelos bares da moda. Com sua absoluta informalidade e presença de tipos dos mais variados, eram lugares onde me sentia (e ainda me sinto) muito mais à vontade. Quem vai a boteco não vai para paquerar. Ou esta não é a prioridade, pelo menos. Geralmente, o indivíduo sai do trampo e vai direto para lá. Suado, do jeito que estiver... O objetivo é simplesmente relaxar das chicotadas que a vida lhe dá durante o dia. Tomar umas cervejas e jogar conversa fora.
Mas apesar de achar os botecos lugares super-agradáveis, só fui me tornar um bom frequentador mesmo depois que me mudei para Belo Horizonte. E, cá entre nós, cidade mais apropriada para esse hábito não há... Desde os tempos do Clube da Esquina, a fama dos bares e botecos daqui já correu o Brasil e o Mundo. E, sendo uma cidade ligada tanto à tradição quanto à vanguarda, BH tem em sua vida boêmia essa marca, essa capacidade de convivência pacífica e enriquecedora, um vai-e-vem de gentes das mais díspares tendências e gostos, que se reúnem em volta de uma mesinha para celebrar essa diversidade, esse jeito mineiro de declarar o seu compromisso com a Liberdade, e de demarcar campos onde a Democracia pode ser realmente plena.
Sem dúvida algum de que o boteco é este espaço. Lá a voz do Advogado, vale tanto quanto a do barbeiro. A do fazendeiro tanto quanto a do estudante. E a do jovem tanto quanto a do velho. A heterogeneidade dos clientes é a sua graça, e a coexistência de pessoas que, em outro ambiente, mal trocariam um “Bom Dia” é o seu maior charme e chamariz.
O Lua Nova é um desses botecos. E foi o primeiro que eu, efetivamente, frequentei na vida. Duas, três, ou até quatro vezes por semana, lá estava eu “batendo ponto”. É um estabelecimento que tem bastante história, e já virou até livro e documentário. Atualmente fica no 2° Piso do Edifício Maletta e, dizem, já foi frequentado por Milton Nascimento e a sua turma. Mas isso foi em outra época, quando o bar ainda funcionava no piso de baixo. Há cerca de 15 anos foi adquirido pelo atual proprietário, o Juventino. Meus amigos sabem melhor da história, mas me parece que o Lua Nova, e a própria galeria do Maletta, passaram por períodos meio tenebrosos, com presença constante de baixos-traficantes, prostitutas e mal-encarados em geral. As batidas policiais eram rotina e, nas “boas famílias” era recomendado que se passasse longe daquele lugar...
Mas o tempo passa. E as coisas mudam. Hoje, o Juventino dá graças a Deus, pois ele diz ter conseguido “expulsar os vagabundos” do seu bar. Mesmo com aquele tamanho todo que ele tem, aquele mau-humor e o indefectível bigodão de mexicano, deve ter sido dureza! Ainda se vê, vez por outra, uns tipo meio estranhos circulando. Mas em 99% dos casos, eles são só isso mesmo: “uns tipo meio estranhos”. Não fazem mal a ninguém. E, de certa forma, até dão um clima underground bacana ao Lua Nova. Quem frequenta sabe que são quase sempre as mesmas figuras. E, à medida que o Ju (o Juventino) vai “pegando confiança” com você, ele começa a lhe contar as histórias dos frequentadores, entremeados por rabugices e muitos, mas muitos comentários sobre futebol.
O “Cardápio” do Lua Nova não é lá muito extenso, e nem tão saboroso. De modo que o pessoal se reúne mesmo é para beber. Dica: jamais, jamais pergunte ao Ju se tem cerveja gelada, pois é bem capaz de receber um “coice” daqueles, mesmo que a breja nem sempre esteja, efetivamente, na temperatura ideal... A decoração é inexistente (como em todo bom boteco) e o banheiro, bem, é um banheiro de boteco. Vocês sabem como é...
Mas o Bar do Ju, como é mais conhecido pela galera de hoje em dia, tem um “quê” de atraente. E quando se dá por si, é sempre o primeiro lugar que vem a mente quando se pensa em “tomar uma”. E assim, fui tomando contato (e me tornando amigo) de pessoas super-legais, jovens que são capazes de estabelecer um papo bacana, sem ser vazio, pedante ou entediante. Pessoas que compartilham suas experiências sem preconceitos e, incrivelmente, escutam o que você tem a dizer.
Acontece que, infelizmente, não estou podendo mais exercitar a minha boemia no Lua Nova (nem em lugar nenhum), já que mudei o meu horário de trabalho para a noite. E, como dizia o Marquinho lá da Gerel, "profissional" não frequenta bar em fim de semana. E então, toda Sexta, quando passo em frente do Maletta, voltando para casa na Van, às 2 da manhã, fico me lamentando: ê, saudade de tomar uma cerveja no Bar do Ju com os amigos!...
Mas penso que a vida é assim mesmo. Chegou a hora de curtir outras paradas. Estou até gostando do trampo noturno. E sei que muitas outras viradas estão reservadas para mim no futuro. Ainda tenho muito o que experimentar... Bom é guardar estes momentos felizes na memória. Outros virão. Em botecos ou não, o lance é esse: curtir o que de melhor as vivências podem lhe proporcionar e agradecer a Jah por essas preciosas oportunidades.
Mas apesar de achar os botecos lugares super-agradáveis, só fui me tornar um bom frequentador mesmo depois que me mudei para Belo Horizonte. E, cá entre nós, cidade mais apropriada para esse hábito não há... Desde os tempos do Clube da Esquina, a fama dos bares e botecos daqui já correu o Brasil e o Mundo. E, sendo uma cidade ligada tanto à tradição quanto à vanguarda, BH tem em sua vida boêmia essa marca, essa capacidade de convivência pacífica e enriquecedora, um vai-e-vem de gentes das mais díspares tendências e gostos, que se reúnem em volta de uma mesinha para celebrar essa diversidade, esse jeito mineiro de declarar o seu compromisso com a Liberdade, e de demarcar campos onde a Democracia pode ser realmente plena.
Sem dúvida algum de que o boteco é este espaço. Lá a voz do Advogado, vale tanto quanto a do barbeiro. A do fazendeiro tanto quanto a do estudante. E a do jovem tanto quanto a do velho. A heterogeneidade dos clientes é a sua graça, e a coexistência de pessoas que, em outro ambiente, mal trocariam um “Bom Dia” é o seu maior charme e chamariz.
O Lua Nova é um desses botecos. E foi o primeiro que eu, efetivamente, frequentei na vida. Duas, três, ou até quatro vezes por semana, lá estava eu “batendo ponto”. É um estabelecimento que tem bastante história, e já virou até livro e documentário. Atualmente fica no 2° Piso do Edifício Maletta e, dizem, já foi frequentado por Milton Nascimento e a sua turma. Mas isso foi em outra época, quando o bar ainda funcionava no piso de baixo. Há cerca de 15 anos foi adquirido pelo atual proprietário, o Juventino. Meus amigos sabem melhor da história, mas me parece que o Lua Nova, e a própria galeria do Maletta, passaram por períodos meio tenebrosos, com presença constante de baixos-traficantes, prostitutas e mal-encarados em geral. As batidas policiais eram rotina e, nas “boas famílias” era recomendado que se passasse longe daquele lugar...
Mas o tempo passa. E as coisas mudam. Hoje, o Juventino dá graças a Deus, pois ele diz ter conseguido “expulsar os vagabundos” do seu bar. Mesmo com aquele tamanho todo que ele tem, aquele mau-humor e o indefectível bigodão de mexicano, deve ter sido dureza! Ainda se vê, vez por outra, uns tipo meio estranhos circulando. Mas em 99% dos casos, eles são só isso mesmo: “uns tipo meio estranhos”. Não fazem mal a ninguém. E, de certa forma, até dão um clima underground bacana ao Lua Nova. Quem frequenta sabe que são quase sempre as mesmas figuras. E, à medida que o Ju (o Juventino) vai “pegando confiança” com você, ele começa a lhe contar as histórias dos frequentadores, entremeados por rabugices e muitos, mas muitos comentários sobre futebol.
O “Cardápio” do Lua Nova não é lá muito extenso, e nem tão saboroso. De modo que o pessoal se reúne mesmo é para beber. Dica: jamais, jamais pergunte ao Ju se tem cerveja gelada, pois é bem capaz de receber um “coice” daqueles, mesmo que a breja nem sempre esteja, efetivamente, na temperatura ideal... A decoração é inexistente (como em todo bom boteco) e o banheiro, bem, é um banheiro de boteco. Vocês sabem como é...
Mas o Bar do Ju, como é mais conhecido pela galera de hoje em dia, tem um “quê” de atraente. E quando se dá por si, é sempre o primeiro lugar que vem a mente quando se pensa em “tomar uma”. E assim, fui tomando contato (e me tornando amigo) de pessoas super-legais, jovens que são capazes de estabelecer um papo bacana, sem ser vazio, pedante ou entediante. Pessoas que compartilham suas experiências sem preconceitos e, incrivelmente, escutam o que você tem a dizer.
Acontece que, infelizmente, não estou podendo mais exercitar a minha boemia no Lua Nova (nem em lugar nenhum), já que mudei o meu horário de trabalho para a noite. E, como dizia o Marquinho lá da Gerel, "profissional" não frequenta bar em fim de semana. E então, toda Sexta, quando passo em frente do Maletta, voltando para casa na Van, às 2 da manhã, fico me lamentando: ê, saudade de tomar uma cerveja no Bar do Ju com os amigos!...
Mas penso que a vida é assim mesmo. Chegou a hora de curtir outras paradas. Estou até gostando do trampo noturno. E sei que muitas outras viradas estão reservadas para mim no futuro. Ainda tenho muito o que experimentar... Bom é guardar estes momentos felizes na memória. Outros virão. Em botecos ou não, o lance é esse: curtir o que de melhor as vivências podem lhe proporcionar e agradecer a Jah por essas preciosas oportunidades.
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