10.3.09

Objetos

Desde que me mudei para o meu atual apartamento comecei a desenvolver uma relação especial com os objetos. A situação de ter um lugar que é meu, fez com que me afeiçoasse, indiretamente, à tudo o que está dentro dele.

Só que não é um tipo de afeição relacionado primordialmente à posse. Acho que o que mais me chama atenção é a utilidade de cada um dos objetos, e depois a sua beleza. Não existe um orgulho de posse, até porque não possuo nada de grande valor monetário. Apenas fico feliz com as minhas escolhas. É lugar comum que a gente dá mais valor às coisas que pagamos do nosso próprio bolso. Tudo bem, não discordo. Mas é mais que isso....

Em outras palavras, os novos objetos que vou adquirindo não estão lá por acaso. Eu, por meu critério e gosto, decidi que eles deveriam estar na minha casa. E isso cria um outro tipo de valor: um valor sentimental...

O outro lado da história, é que vejo que as minhas escolhas também fazem com que eu tenha responsabilidades. Aqueles adoráveis objetos que me servem de alguma forma (pela sua utilidade prática ou por sua beleza) também “exigem” uma contra-partida. E o que eles querem? Como eu, como você, como todo mundo, eles querem atenção....

Quanto mais presto atenção nas coisas que me cercam, vejo o quanto preciso cuidar delas. É essa a contra-partida. Os objetos também desejam ser bem cuidados. Se eu quero, por exemplo, uma determinada panela e a compro, ela vai exigir que eu a mantenha em perfeitas condições para que cozinhe bem para mim. Se eu quero me sentar confortavelmente em meu sofá, será necessário que eu o limpe diariamente e esteja atento à sua manutenção, caso seja necessário (algum reparo da estrutura, ou troca do estofado, etc.) E é ele, o sofá, que exigirá isso de mim... É como se a lei de ação e reação estivesse sendo aplicada sobre todas as coisas, sobre cada pequena coisa, 24 horas por dia...

Cada objeto tem a sua vida própria. E é preciso que nós o mantenhamos “vivo”. De que adianta um saca-rolhas para quem não bebe, um tênis perdido no fundo do armário, um rádio que nunca é ligado? O saca-rolhas quer sacar rolhas. O tênis quer “ser tênis”. Ou seja, quer que alguém ande com ele nos pés. E o rádio, quer que alguém gire ou aperte os seus botões e se alegre com as músicas que é capaz de reproduzir.

Uma casa onde tudo fica guardado é uma casa meio morta. Ela tem o ar pesado e lá a vida se arrasta. Este é um dos motivos pelos quais penso que acumular coisas não é algo muito legal. Se acho que preciso de novos interruptores, não vou entulhar os usados dentro de uma caixa, para abri-la daqui a dez anos e saber que tenho interruptores usados para alguma eventualidade. Acho que isto é uma certa forma de avareza. De apêgo demasiado. Se não preciso de algo, certamente há alguém que necessita. E, não vejo problema em jogar coisas “usáveis” no lixo, porque sei que serão aproveitadas por um outro.

Não quero com isso dizer que sou adepto do desperdício e da descartabilidade. Gosto de coisas que durem, que tenham uma boa qualidade e que cumpram o seu “papel”. Por outro lado, meu dinheiro, infelizmente, não brota no quintal. Então, não acho certo deixar que as coisas fiquem abandonadas e entulhadas dentro de minha própria casa. Acho um desrespeito para com elas e sinto que elas acham o mesmo.

Cada célula, de cada minúscula cabeça de alfinete, de cada linha costurada, de cada gota de tinta... Para mim, tudo está vivo... E assim tenho sentido o pulsar do Universo em cada canto onde ponho os meus olhos. Não me vejo como um ser superior, um homem que domina a Natureza, que domina o seu ambiente. Eu me vejo com alguém que participa de tudo e vive pequenas descobertas e incríveis interações, em todo lugar e a todo momento.

2 comentários:

Anônimo disse...

OLá Mendelson, tudo bem? É a 1ª vez que escrevo em teu blog, que por sinal acho muito bem escrito. Concordo plenamente com vc em relação ao "apego" a objetos q adquirimos e que nunca serão usados. Tenho uma necessidade diária de reinventar meu ambiente. Apesar de não morar só tenho meu quarto como referência, e às vezes olho ao meu redor e vejo que muitas coisas que tenho poderiam ser mais úteis a outras pessoas. Livros que nunca serão lidos, revistas empoeirando e cds que nem ouço mais.Em tempos em que "ter" é "poder" as pessoa deveriam repensar melhor o que seria "poder" para elas.....

Mendelson disse...

Antonio Henrique, valeu o elogio! O que anda me incomodando mais ultimamente é ver que as pessoas em geral estão buscando as coisas materiais sem a mínima noção do porquê que elas deveriam ter aquilo. A elas parece que apenas o QUERER já justifica tudo...