Minha mente vacila,
nega, duvida...
Envolta em si:
nada alcança, nada sabe.
Meus pés me levam
a caminhos e veredas
que me trazem de novo
a este vazio.
Minha boca age
em silêncio.
Murmura frases cortadas,
palavras incompreensíveis.
Em meus ouvidos,
um canto esquecido,
um som imaginário,
uma canção que ainda não surgiu.
Sinto aromas longínquos.
Perfumes dissipados pelo tempo,
mas não pela memória.
Meus olhos buscam
a forma ideal,
o gesto perfeito,
uma luz improvável e sublime.
O coração pulsa lancinante.
Sem bem saber porquê,
nem por quanto tempo.
Mas daí você me aparece
e resolve tudo isso assim:
num piscar de olhos!...
20.4.07
19.4.07
Segue em Paz
Quando uma dia quiseres partir,
não deixes que o silêncio
anuncie isto por ti.
Os teus olhos já sentenciam
a vontade iminente.
E o coração sufocado em lamentos,
por não quereres ferir-me.
Mas quanto tempo levei
para perceber das tuas intenções!
Tantas indas e vindas!
Tua angústia postergada;
minhas interrogações multiplicadas...
Saiba, senhora, que
se a palavra fere,
também apazigua.
E se te calas, isto
não subtrai o teu penar.
Pelo contrário, afia-lhe mais
a impiedosa lâmina.
Não te preocupes, portanto.
Meu coração está vazio...
Apesar dos teus encantos,
tu jamais o preencheste.
Pois também eu, desde o princípio,
soube que era efêmera esta chama.
Falo-te, antes por apreço
que por necessidade:
Cede ao ímpeto dos teus pés,
que já apontam para outro Norte.
Nada me deves, a não ser
tua verdade errante e leve.
não deixes que o silêncio
anuncie isto por ti.
Os teus olhos já sentenciam
a vontade iminente.
E o coração sufocado em lamentos,
por não quereres ferir-me.
Mas quanto tempo levei
para perceber das tuas intenções!
Tantas indas e vindas!
Tua angústia postergada;
minhas interrogações multiplicadas...
Saiba, senhora, que
se a palavra fere,
também apazigua.
E se te calas, isto
não subtrai o teu penar.
Pelo contrário, afia-lhe mais
a impiedosa lâmina.
Não te preocupes, portanto.
Meu coração está vazio...
Apesar dos teus encantos,
tu jamais o preencheste.
Pois também eu, desde o princípio,
soube que era efêmera esta chama.
Falo-te, antes por apreço
que por necessidade:
Cede ao ímpeto dos teus pés,
que já apontam para outro Norte.
Nada me deves, a não ser
tua verdade errante e leve.
14.4.07
Carta aos Amigos Ausentes
Amigos de ontem, por onde andam?
Tinha tanta coisa para contar a vocês!... Quantas coisas vi e vivi! Quanto aprendi! Quanto sofri! Quanto sorri! Quanto amei! Queria poder contar tudo a vocês. Nos mínimos detalhes!...
Mas onde estão vocês? Por que, raios, deixamos a distância nos vencer?
Ainda guardo na memória nossas conversas, nossas brincadeiras, nossas confissões (mulheres que amamos, erros imperdoáveis, traquinagens, angústias), nossas invenções e viagens... Tudo guardado no coração. Assento e base de muito do que sou hoje...
Como seria se pudéssemos estar juntos novamente? Será que me reconheceriam? Eu os reconheceria? Seremos os mesmos de ontem?
Eu, por mim, mudei tanto, mas tanto! Que não sei se teriam orgulho ou estranhamento... As coisas que me despertaram e me trouxeram até aqui teriam o mesmo impacto sobre vocês? Será que ainda curtimos as mesmas coisas? Compartilharíamos hoje os mesmos discos, os mesmos ideais?
Tantas perguntas... E essa distância e esse silêncio implacáveis!...
Agora tenho novos amigos. Tão fantásticos quanto vocês. Que me ensinam a cada minuto, como vocês me ensinaram em outros tempos... Teria o maior orgulho de apresentar uns aos outros. Mas os destinos às vezes não convergem... A estranha sabedoria cósmica...
Mas vocês ainda estão comigo em muitos momentos. E sempre estarão!: na memória, nos gestos, na fala, no coração... E mesmo que nunca mais possamos estar frente a frente, saibam que amigos os considerarei com toda a minha energia e apreço. E desejo a vocês, onde quer que estejam, que encontrem os vossos caminhos e sejam felizes.
Um abraço do eterno amigo,
Mendelson
Tinha tanta coisa para contar a vocês!... Quantas coisas vi e vivi! Quanto aprendi! Quanto sofri! Quanto sorri! Quanto amei! Queria poder contar tudo a vocês. Nos mínimos detalhes!...
Mas onde estão vocês? Por que, raios, deixamos a distância nos vencer?
Ainda guardo na memória nossas conversas, nossas brincadeiras, nossas confissões (mulheres que amamos, erros imperdoáveis, traquinagens, angústias), nossas invenções e viagens... Tudo guardado no coração. Assento e base de muito do que sou hoje...
Como seria se pudéssemos estar juntos novamente? Será que me reconheceriam? Eu os reconheceria? Seremos os mesmos de ontem?
Eu, por mim, mudei tanto, mas tanto! Que não sei se teriam orgulho ou estranhamento... As coisas que me despertaram e me trouxeram até aqui teriam o mesmo impacto sobre vocês? Será que ainda curtimos as mesmas coisas? Compartilharíamos hoje os mesmos discos, os mesmos ideais?
Tantas perguntas... E essa distância e esse silêncio implacáveis!...
Agora tenho novos amigos. Tão fantásticos quanto vocês. Que me ensinam a cada minuto, como vocês me ensinaram em outros tempos... Teria o maior orgulho de apresentar uns aos outros. Mas os destinos às vezes não convergem... A estranha sabedoria cósmica...
Mas vocês ainda estão comigo em muitos momentos. E sempre estarão!: na memória, nos gestos, na fala, no coração... E mesmo que nunca mais possamos estar frente a frente, saibam que amigos os considerarei com toda a minha energia e apreço. E desejo a vocês, onde quer que estejam, que encontrem os vossos caminhos e sejam felizes.
Um abraço do eterno amigo,
Mendelson
12.4.07
Meus Dragões Imaginários
Outro dia estava conversando com um amigo meu sobre a nossa idade. Ele e eu nascemos no mesmo ano. Mas dizíamos que para nós mesmos a nossa idade era outra. Ele se sentia com 132 anos pelas coisas todas que já tinha vivido. E eu disse a ele que me sentia com doze. Mas não cheguei a explicar bem o porquê...
Um menino de 12 anos. Um menino que ainda gosta de brincar, mas que agora quer ser respeitado como um adulto. Um menino que ainda tem vastos mundos a descobrir, caminhos a percorrer, obstáculos a transpor, medos a enfrentar... Que já passou, contudo, por grandes cargas! E enfrentou tudo sozinho, como achava, na época, que era o que um homem deveria fazer. Demonstrar fraqueza, insegurança, medo? Nem pensar!... Um menino esperto (que honra as suas cuequinhas tamanho P) já sabe que demonstrar medo para os amigos é a morte (no sentido moral da coisa). Mal sabia eu que todos os meninos têm seus monstros a enfrentar. Que aqueles que mais se mostravam valentes e temidos, muitas vezes eram os que mais careciam de aconchego e compreensão.
Para um menino de 6, 7, 8, 9, 10 anos, não importa, o que mais vale é o respeito. Principalmente dos amigos e colegas de escola. E para isso valia desde mentir sobre os seus feitos (como, por exemplo, descrever as aventuras sexuais com a vizinha de 13 anos da prima [que, obviamente, não existia]) até utilizar-se da força bruta mesmo (sendo ela necessária ou não). Eu nunca usei nem uma coisa, nem outra. Aliás, eu mentia sim. Mas somente para esconder coisas que achava que, se os outros soubessem, iriam acabar zombando de mim... Para inventar qualidades que eu não tinha, ou aventuras que não vivi, para isso eu não sabia mentir...
Como então os garotos me respeitavam? Primeiramente, graças a Deus, eu sempre fui um dos maiores da turma (e isso por si só já impunha algum respeito). Depois também porque sempre me saía bem nos estudos. O que, afinal, é valorizado por todos... E, por último, porque eu jamais me metia em confusões. Não sei se isso era por prudência ou por covardia. Na minha cabeça de menino, sempre foi pela segunda opção. E como eu me sentia (e me sinto) mal com isso! De saber que fugi das situações, que a minha espinha congelava e a minha garganta trancava cada vez que alguém elevava o tom de voz comigo... Só sabia que não podia chorar. E não chorava!... Nessas horas, a minha voz trêmula e pequena denunciava o meu pavor e a vontade de me livrar daquela situação o mais rapidamente possível!... Depois, restava em meu peito somente um ódio sem fim por mim mesmo Por ter deixado claro para quem quisesse ver que eu ainda não era um "homem"...
Durante toda minha infância, o meu silêncio foi o meu refúgio. Todos os problemas guardados debaixo da língua. Ninguém sabia deles. Ninguém!... É certo que todos me achavam meio estranho pelo fato de eu ser muito calado. E até me cobravam isso. Dizendo que eu tinha que ser mais assim, ou mais assado (e evidentemente apelando para a questão da masculinidade, reforçando que se eu não mudasse, as menininhas nunca iriam se interessar por mim, etc). A única vontade que eu tinha era a de gritar para não encherem o meu saco! Mas cadê a coragem?... Ouvi esse tipo de coisa durante anos! E a cada vez que eu ouvia, mais dificuldade eu tinha, mais culpado eu me sentia, mais anti-social eu ficava: fui ficando mais sério, com cada vez menos amigos, saía cada vez menos de casa. Tornei-me um garoto triste. Estive a um passo da depressão. Lembra-se, Moisés, quando eu sumia das festas a que a gente ia, voltando a pé para casa no meio das madrugadas? Pois é, aquilo para mim estava ficando insuportável!... Sempre adorei a companhia de vocês, mas a uma certa hora me batia uma tristeza sem fim e eu simplesmente tinha que ir embora!...
O que me salvava, e o que me salva ainda hoje, era a confiança inesgotável que eu tinha em mim mesmo. E, de uma certa forma, essa confiança toda é até inexplicável, considerando tudo isso que eu contei até aqui... Confiança de que por maiores que fossem as dificuldades, eu era perfeitamente capaz de superá-las. Olhando por um outro ponto de vista, era quase orgulho mesmo... Enfim, eu resisti. Talvez por saber, lá no fundo, que os maiores monstros que enfrentei, era eu próprio que os criava.
Um menino de 12 anos. Um menino que ainda gosta de brincar, mas que agora quer ser respeitado como um adulto. Um menino que ainda tem vastos mundos a descobrir, caminhos a percorrer, obstáculos a transpor, medos a enfrentar... Que já passou, contudo, por grandes cargas! E enfrentou tudo sozinho, como achava, na época, que era o que um homem deveria fazer. Demonstrar fraqueza, insegurança, medo? Nem pensar!... Um menino esperto (que honra as suas cuequinhas tamanho P) já sabe que demonstrar medo para os amigos é a morte (no sentido moral da coisa). Mal sabia eu que todos os meninos têm seus monstros a enfrentar. Que aqueles que mais se mostravam valentes e temidos, muitas vezes eram os que mais careciam de aconchego e compreensão.
Para um menino de 6, 7, 8, 9, 10 anos, não importa, o que mais vale é o respeito. Principalmente dos amigos e colegas de escola. E para isso valia desde mentir sobre os seus feitos (como, por exemplo, descrever as aventuras sexuais com a vizinha de 13 anos da prima [que, obviamente, não existia]) até utilizar-se da força bruta mesmo (sendo ela necessária ou não). Eu nunca usei nem uma coisa, nem outra. Aliás, eu mentia sim. Mas somente para esconder coisas que achava que, se os outros soubessem, iriam acabar zombando de mim... Para inventar qualidades que eu não tinha, ou aventuras que não vivi, para isso eu não sabia mentir...
Como então os garotos me respeitavam? Primeiramente, graças a Deus, eu sempre fui um dos maiores da turma (e isso por si só já impunha algum respeito). Depois também porque sempre me saía bem nos estudos. O que, afinal, é valorizado por todos... E, por último, porque eu jamais me metia em confusões. Não sei se isso era por prudência ou por covardia. Na minha cabeça de menino, sempre foi pela segunda opção. E como eu me sentia (e me sinto) mal com isso! De saber que fugi das situações, que a minha espinha congelava e a minha garganta trancava cada vez que alguém elevava o tom de voz comigo... Só sabia que não podia chorar. E não chorava!... Nessas horas, a minha voz trêmula e pequena denunciava o meu pavor e a vontade de me livrar daquela situação o mais rapidamente possível!... Depois, restava em meu peito somente um ódio sem fim por mim mesmo Por ter deixado claro para quem quisesse ver que eu ainda não era um "homem"...
Durante toda minha infância, o meu silêncio foi o meu refúgio. Todos os problemas guardados debaixo da língua. Ninguém sabia deles. Ninguém!... É certo que todos me achavam meio estranho pelo fato de eu ser muito calado. E até me cobravam isso. Dizendo que eu tinha que ser mais assim, ou mais assado (e evidentemente apelando para a questão da masculinidade, reforçando que se eu não mudasse, as menininhas nunca iriam se interessar por mim, etc). A única vontade que eu tinha era a de gritar para não encherem o meu saco! Mas cadê a coragem?... Ouvi esse tipo de coisa durante anos! E a cada vez que eu ouvia, mais dificuldade eu tinha, mais culpado eu me sentia, mais anti-social eu ficava: fui ficando mais sério, com cada vez menos amigos, saía cada vez menos de casa. Tornei-me um garoto triste. Estive a um passo da depressão. Lembra-se, Moisés, quando eu sumia das festas a que a gente ia, voltando a pé para casa no meio das madrugadas? Pois é, aquilo para mim estava ficando insuportável!... Sempre adorei a companhia de vocês, mas a uma certa hora me batia uma tristeza sem fim e eu simplesmente tinha que ir embora!...
O que me salvava, e o que me salva ainda hoje, era a confiança inesgotável que eu tinha em mim mesmo. E, de uma certa forma, essa confiança toda é até inexplicável, considerando tudo isso que eu contei até aqui... Confiança de que por maiores que fossem as dificuldades, eu era perfeitamente capaz de superá-las. Olhando por um outro ponto de vista, era quase orgulho mesmo... Enfim, eu resisti. Talvez por saber, lá no fundo, que os maiores monstros que enfrentei, era eu próprio que os criava.
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