17.6.06

A Ponte

O meu primeiro porre foi na República da Biogênese. Este nome foi em homenagem ao meu primeiro vômito de porre, que foi no carpete da escada que levava ao banheiro da casa. Entupi o bidê com vômito. Era um predinho antigo, porque hoje em dia as casas não têm mais bidês. Gostava de ir na república pois lá moravam umas garotas muito bonitas e simpáticas. Inclusive uma italianinha de olhos verdes chamada Daniela. Fiquei a fim dela. Mas a guria não me quis. Hoje dou total razão à Dani. Porque desde o dia em que a conheci [no dia do porre] até o dia em que ela voltou para a sua cidade, vomitar em seu carpete tinha sido o meu mais grandioso feito. Além disso, eu era meio esquisito: não tomava café, ia de bicicleta para a faculdade, era atleticano, meu melhor amigo tinha um camundongo de estimação chamado Cannabis e comia cajás em sala de aula. E ainda por cima, eu nunca tinha ido à praia, nem à zona. Mesmo fazendo parte da famigerada “turma do fundão”...

Dou razão a todas as garotas que não me quiseram [E não foram poucas]. Mesmo aquelas que nunca presenciaram as minhas espetaculares golfadas pelas noites montesclarenses.
Que fase terrível foi aquela!... Foi triste descobrir-se um fracassado aos vinte e poucos anos. Não tinha emprego [dinheiro nem se fala], não tinha carro, fazia um curso por inércia, sem a mínima perspectiva; amigos contava nos dedos de uma mão. E eles se sentiam tão ou mais fracassados do que eu. No girls, no fun... E percebi que não era um gênio de futuro brilhante, mas um cara medíocre, covarde e preguiçoso. Que trancou-se em seus próprios medos e virou um estúpido clown.

Porém, um dia ela fez tudo mudar. Tudo mudar! De uma hora para outra, eu não era mais eu. Mas um outro. A supresa desta guria era a minha surpresa. De onde vinha toda aquela avalanche de sensações e descobertas? Como uma pessoa é capaz de modificar tão profundamente a vida da outra com umas poucas palavras? Dali em diante eu pude enxergar a minha real potência. E essa potência se chamava amor...
E daí a liberdade. A luz. A verdade. O movimento. O delumbramento das infinitas possibilidades: era como sair de um casulo de onde só enxergava por uma pequena fresta.. Fez-se um homem do que antes era um verme.

Mas o engraçado foi que eu não soube como demonstrar toda essa minha nova energia para a tal garota. Eu me perdi na empolgação do amor e fiz da verdade [de amar] uma arma contra mim mesmo. É que o que imaginava ser verdade [e, portanto, um dever de se mostrar] na verdade era um engano. Naquele turbilhão, o meu erro foi amar demais [e falar demais, pois muito do que pensava ser sinceridade, para ela era puro tormento].

Hoje aprendi a conter-me um pouco mais. Descobri que devo utilizar-me de uma certa perspicácia para que seja possível que se realize a minha potência. É bom moderar se não o coração, pelo menos as palavras. Acredito que agora uso-as melhor a meu favor. E nisso tenho depositado toda a minha esperança para aplacar essa eterna ausência no peito. Que consome-nos, pobres inocentes, a doses mínimas e regulares.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, sei que você não precisa de um elogio - e se você precisasse eu o faria falsamente noutra ocasião qualquer -, mas devo lhe relatar minha sensação ao ler tua história:
Senti uma coisa boa no coração, me veio um sinal de que estava vendo algo bom de verdade.
O teu texto tá du caralho!
Abração Mendel.

Moisés.

Anônimo disse...

Valeu, Moko.
Não preciso nem dizer que a sua opinião é muito valiosa para mim.
É isso aí. Estamos na luta!

Abraço!