17.7.09

Veckatimest


Depois de uma certa idade, a gente começa e ficar meio chato com tudo. A experiência [qualquer que seja] leva-nos a adotar uma postura mais seletiva para cada aspecto de nossa vida. Por mais que impressões da Infância permaneçam fortes, a nossa enorme capacidade de absorção de informações faz com que, a partir de uma certa altura, o descarte apressado do que não nos interessa torne-se uma ação mais do que rotineira.

Há alguns obtusos ainda que se negam a sair de seus conceitozinhos mal-ajambrados, limitando a sua inata curiosidade até quase sufoca-la por completo. Para esses infelizes, ou nada de novo acontece, ou nada do que é novo presta. Saudosistas rancorosos da juventude perdida, não são capazes de ver que o mundo continua pulsando, e coisas boas e novas pipocam a todo instante.

Não faço apologia da modernidade, apenas tento viver o meu tempo. Interesso-me por ele, porque é nele que ajo. E gosto de ver que há milhares e milhares de outras pessoas que também estão vivendo as suas aventuras, os seus projetos, sonhos e dificuldades. Sem se preocupar muito com o que já foi...

Essa introdução enorme é para falar de uma coisa nova que descobri neste mês. Que me fez ver [de novo] as infinitas possibilidades que a Arte representa. Foi um disco [com o perdão da anacronia] que ouvi e me causou uma gostosa empolgação. O seu nome é Veckatimest. E quem o “cometeu” foi uma bandinha chamada Grizzly Bear. Bandinha, no caso, é apelido carinhoso, pois os caras fizeram um serviço de gente grande! Com 12 faixas sublimes, Veckatimest deixa na gente aquela sensação de elevação que só as verdadeiras obras-primas são capazes de proporcionar.

E o mais legal é que, ao que parece, esse álbum não deve ser um exemplo isolado. Acho que a Revolução da Internet no campo da distribuição musical está a ponto de fazer também uma revolução na criação musical! A facilidade de acesso e a democratização da produção estão criando uma legião de ouvintes melhores e, assim, consequentemente, músicos com bagagem sonora mais rica e diversificada. Foram raros os períodos da Música em que uma safra tão numerosa de bons artistas estivesse produzindo a todo vapor como agora.

O caldeirão cultural do compartilhamento de arquivos iniciado com o falecido Napster, começa agora, no fim da década, a “engrossar o caldo” [como diria o Caetano] e a render obras que são para, no mínimo, prestar-se muita atenção. Que é fã de Música de qualidade não perde por esperar [e pesquisar], porque há indícios de que está surgindo uma nova era de ouro dos grandes álbuns. Era que, pelo menos para mim, foi inaugurada com este brilhante Veckatimest, desta “bandinha” aí, o Grizzly Bear...

E viva a ousadia!

10.7.09

Sem Dono

Frequentemente, a gente usa umas palavras meio inadequadas para expressar as nossas idéias. O que gera, com certeza, muitos mal-entendidos e “estranhamentos” entre as pessoas de nosso convívio.

É bom ter amigos que te compreendem, mesmo quando não encontramos a palavra ideal, a frase ideal para dizermos o que andamos pensando. Muitas vezes, esses amigos até “traduzem”, nas palavras corretas, o que estávamos tentando dizer, mas não conseguíamos.

Outro dia estava com o Mocha no Belvedere. Ficamos alguns minutos de lá do alto, observando as luzes de Belo Horizonte. E eu disse a ele que, para mim, esta cidade tinha alguns donos: Miltão, Roberto Drummond, Lô, Fernando Sabino... E que, um dia, eu também seria um deles. O Mocha sorriu, e me deu apoio. E eu senti que ele não concordava muito bem com o que eu tinha dito, mas entendeu qual foi a minha intenção naquela, aparentemente, pretensiosa fala.

Depois fiquei refletindo, ao som do Lou Reed no carro, que eu tinha me equivocado um pouco. Não existe nenhum dono de BH. A cidade é de todos... E esse é talvez o grande barato das metrópoles. Elas são grandes demais, e diversas demais, para que alguém se aposse delas.

Na verdade, talvez se dê até o contrário. Eu, por exemplo, acho que embora o Milton more há muitos anos no Rio de Janeiro, ele nunca vai deixar de ser daqui. O Daniel Galera sempre será portalegrense. E Cortázar sempre foi portenho, apesar de nunca mais ter retornado a Buenos Aires depois do exílio. O lugar se entranha na gente. A força da terra é maior do que qualquer Gravidade. A palavra fenotipia é a que me ocorre nessas horas...

Então, temos que me expressei mal para o Mocha. Aqueles caras que citei no início do texto seriam antes intérpretes do que donos da cidade. De alguma forma, eles ajudaram a compreendermos melhor este lugar. Deram a nós um novo olhar sobre BH. E, às vezes até, formaram uma parte do nosso inconsciente coletivo. Eu, por exemplo, sempre sinto algo diferente quando passo pela Rua Ramalhete. Sem dúvida que isso não ocorreria, não fosse a maravilhosa canção do Tavito...

Não quero ser dono de nada. A minha vontade é de simplesmente deixar registrado o meu olhar sobre as coisas. E sei que tenho sensibilidade suficiente para alcançar o coração das pessoas se me propuser a isso. Sinto que tenho que levar Belo Horizonte, levar Minas Gerais para o mundo. De um jeito novo. De um jeito só meu de expressar, mas que todo mundo pudesse compreender e sentir.

2.7.09

Gregor & The Millenium Bugs

Eu besouro,
Tu vespas,
Ele barata,

Nós formigamos,
Vós borboletais,
Eles moscam.